quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Um dia de domingo




Mais dia menos noite isso iria acontecer. Mais dia menos noite nos encontraríamos e perguntaria o porquê de você terminar assim, de repente. Você sabe tão bem quanto eu da minha mania de achar que a minha vida é uma sucessão de acasos felizes. Nos encontramos hoje por acaso, mas confesso, não sei se esse é um acaso feliz. Minha vida tem sido de melancolia e essa conversa pode ir para o mesmo caminho.
Não sei até que ponto esse reencontro e essa conversa podem ficar melancólicos. Discutir uma relação que já não existe mais parece coisa de louco pra quem tem juízo. Esqueci de perguntar como vai você. Mas nem precisa responder, aparentemente está bem e vai dizer que está, mas eu sei que não. As aparências enganam.
Mas sei que você não andou por aí a se desgrenhar e chorar lágrimas de pedra. Também não fiz muito esforço pra transformar meu bairro em um lugar submerso por minhas lágrimas. Conto nos dedos as vezes em que chorei. Eu não tinha muito porque chorar, eu queria mesmo era entender o porquê de tudo terminar tão de repente. A princípio a sensação era a de que meu coração ficou parado naquela praça onde terminamos tudo. Ou quase tudo.
Por uns dias acordei depois do meio dia com terríveis ressacas. No espelho, um rosto mais velho. Uns dez anos ou mais como canta não lembro quem. Quando cê me deixou assim, de repente, fiquei em frangalhos, as esperanças estavam dilaceradas. Tem uma metáfora bacana pra isso, é “a esperança era um sorvete em pleno sol”. Tava mais ou menos assim. Hoje mellhorei.
Aquele adeus não valeu, foi sem explicação convincente. Não se desama de um dia pro outro. Poderia perguntar se estava a mentir o tempo todo sobre amar, mas não farei isso. Não seria covarde a ponto de duvidar do teu amor por mim. Doeu que tenhamos saído assim sem nem mesmo nos despedir. Nenhum último beijo. Depois de tantas felicidades, travessuras, tantas juras, saíamos sem um até breve. Apenas um “te cuida!”.
Depois de uns porres eu me cuidei. Eu ficava um porre e começava a reclamar de tudo. Reclamava da vida, da cerveja, da relatividade, do CD do Chico Buarque, da carta aberta da Dilma criticando FHC, da impossibilidade de voltarmos à monarquia pelo simples fato de Luiz Inacio estar com o rei na bariga. Eu queria voltar no tempo e tentar ser feliz, mas depois eu me cuidei. Ainda rola uma melancolia, alguma saudade, mas são coisas que um dia acabarão.
Dia desses disseram que parecíamos um desses casais de música do Chico Buarque, mas acho que não. Estamos mais pra personagem de Woody Allen, naquele filme que cê gosta. Anne Hall, né?
Acho que tenho conversado muito pra um encontro casual. É chegada a hora de ir embora e nem perguntei o porquê de tudo ou quase tudo ter terminado.
Enfim, o importante é saber que você está bem. Pelo menos aparenta estar bem. E quanto a mim, preciso ir embora, boa sorte, até outro dia.
P.S.: “Andando pela calçada torta, a luz do sol é o que me conforta, mas sigo sozinho se tem que ser assim.” (O Quarto Azul)