sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sobre livros e influências...



Tem umas coisas que a gente ler e que acabam por tomar conta da gente. Deixam-nos quase paralisados, a pensar, sem ação. Uns textos que nos fazem refletir. (nos levam a fazer comparações com o que vivemos diariamente). Isso sempre acontece comigo. Às vezes (muita vezes) passo cerca dez minutos a pensar sobre uma frase que eu leio em algum livro. (paro de ler e fico ‘olhando sem olhar’ dominado pelo que fora lido).

Há alguns meses, o amigo José Mendes [@zazasampaio] indicou-me a leitura de ‘Recordações do escrivão Isaías Caminha. Que livro! Coisa linda de Deus sabe?! Um livro realista que retrata a imprensa do início do século 20. Um livro que fala do preconceito de classe e de cor.

‘Recordações do escrivão Isaías Caminha’ é um livro que fala sobre a influência (ás vezes 'má influência') da imprensa. Os maus políticos e seus péssimos hábitos. Ao falar sobre a imprensa, o livro vai muito além de simples críticas. O autor narra detalhes sórdidos, sujos. Muitos detalhes mesmo. (tantos detalhes que nem o Roberto Carlos com aquela conversa toda conseguiria descrever.)

E o livro, apesar de escrito no início do século passado, parece que foi escrito semana passada. O modo como a imprensa se rende ao governo (e vice versa), a desorganização no congresso, a crença de que status está além da inteligência. O livro fala, aliás, no péssimo 'emprego' que damos à nossa inteligência. Uma obra prima que deve ser lida com calma. A obra é linda e muitas vezes calma.

Recordações é um desses livros que mexe muito, muito com o senso de percepção do leitor. Você lê 'Recordações' e percebe que Rousseau tem uma certa razão ao dizer que ‘O homem nasce bom e a sociedade o corrompe’. Ou, como diz Mão Santa citando José Ortega Y Gasset 'Homem é o homem e as circunstâncias'.

Leiam ‘Recordações do Escrivão Isaías Caminha’, de Lima Barreto. O livro é impressionante.

Que todos nós tenhamos um bom dia e um próspero fim de semana.

Gildean Tiago.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ando tão à flor da pele




De repente, não mais que de repente, as ilusões que as pessoas costumam perder na idade madura, eu tenho perdido ainda na minha juventude de 21 anos. A política, a imprensa, a justiça, os meus heróis, os intelectuais e quase todas as coisas que eu admirava foram se apequenando e têm saído da minha ‘lista’ de coisas que merecem a minha simpatia.

Vez ou outra surge uma coisa ou um ato que, como disse Lima Barreto, me faz ‘ter mais simpatia pela nossa espécie, mais orgulho de ser homem’, mas são tão poucos os atos de grandeza que a gente já nem se empolga tanto.

Em tempos de egoísmo e de moralidade baixa, a desconfiança faz-se constante. As dúvidas sobre as intenções de quem faz o bem estão quase sempre presentes. A esperança, coitada, é um sorvete em pleno o sol.

O momento atual, seja na política, na imprensa ou na justiça é de causar constrangimento. Indignação também, mas o constrangimento muitas vezes é ainda maior.

A gente cria fantasias, pensa que pode até ser político que é pra colocar em prática o desejo juvenil de mudar o mundo, mas aí se depara com as coisas ‘pequenas’ desse meio. A política, que pena!, é mais suja e mais feia do que tudo isso que a imprensa noticia.

Ouvi numa novela, um personagem dizer que ‘pra ser político o sujeito tem que ter dinheiro, simpatia e não pode ter escrúpulos’.

Uma vez ouvi o humorista João Cláudio Moreno dizer que ‘o problema não é a política e, sim, a cultura política’, mas eu creio que isso não muda nada. Tá tudo muito sujo. O medo tem vencido as esperanças, tem feito força pra vencer todas as batalhas e a guerra.

Li, hoje à tarde, no livro ‘Filhas do Segundo sexo’, de Paulo Francis, um texto que ele atribui a Tadeuz Borowski e um trecho desse texto diz exatamente isso: “O mundo não é governado pela justiça ou moralidade; O crime não é punido, nem a virtude recompensada. O crime é esquecido tão depressa quanto à virtude. O mundo é governado pelo poder”.

Vai ver é isso mesmo. Que eu não perca os meus ideais e que eu encontre mais atos que me façam ter mais simpatia pela nossa espécie. Que não sejamos engolidos pelo egoísmo e pela ganância. Que não sejamos dominados pela raiva, vingança e que façamos o possível pra humanizar cada vez mais os nossos atos. Que tenhamos consciência dos nossos erros e que possamos corrigi-los.

P.S: Mais á flor da pele que o Zeca Baleiro vendo beijo de novela.