sábado, 2 de agosto de 2014

Devolva-me II



Passados todos esses dias em que não estamos mais juntos, é notório que tudo é sem volta e que é chegada a hora de seguir meu rumo. Convenhamos, cansei de toda essa dedicação sem reciprocidade. Faltam-me condições de nos salvar sozinho. 

Pois bem. Devolva-me “As cartas”, de Caio F. Abreu, devolva as cartas de baralho e rasgue as cartas que dei pra você. Quero de volta o que restou daquele whisky falso pra curar-me desse falso amor que você me deu. 

Por todas de uma vez, quero “Torquato Neto ou carne seca é servida”, do Kernard. Preciso ler pelas ruas e em voz alta o poema “Começar pelo recomeço”, que não lembro de cor. Precisarei do livro pra refrescar a memória. 

Invade-me a memória lembranças do dia em que lhe dei uma rosa, que você guardou entre páginas de sua agenda. Pois bem, devolva! Soube que por esses dias você cantarola “O travesseiro”, do Márcio Greyck, em conversas com as amigas. Conversas de que travesseiro “não abraça, não conversa, não responde, não substitui” e todo esse papo furado de quem – como bem diz o clichê – dá valor depois que perde. Enfim, se o travesseiro não lhe serve, fique sabendo que precisarei dele pra mim,  num torcicolo desgraçado. 

Se fosse possível, quereria de volta o tempo que perdi com você. Ah! Não tem aquelas estrelinhas vermelhas? Umas que são uns broches? Então, ganhei nas eleições de 2002, emprestei pra você e nunca devolveu. Pois eu quero, são itens de coleção, assim como aquele livro do José Serra “Reforma Política no Brasil”, de 1995, e como era a playboy da Regininha Poltergeist. Nunca te perdoei por você tê-la rasgado.

Pra não dizer que sou ruim, muquirana, deixo você ficar com “O universo em desencanto”, que você me tomou e nunca leu. Que você leia e atinja o bom senso.

De mais a mais, não quereria sair sem antes dizer que beberei muita cerveja, doses ordinárias desse whisky do carvalho e esquecerei depressa de você. Sim!

p.s.: Escrevo ao som de Luiz Melodia “começar pelo recomeço” (não vou lamentar, lamento muito, mas agora não dá, não me lembro mais do tal momento que você me deu).