terça-feira, 20 de dezembro de 2011

pretérito




lia três livros por semana e pensava saber tudo da vida. e sabia. não tudo, quase tudo. obstinado, falava três línguas por dia. estudava três cursos por semestre. e vivia um grande amor há três meses. sentia um grande amor.

unia o útil ao agradável. unia pink floyd a led zeppelin e fazia as pazes antes mesmo de entrar em confusão. dizia que era pra evitar desgastes desnecessários.

chegava sempre atrasado e odiava atrasos alheios. um pouco de álcool e solidão faziam esquecer alguns desequilíbrios. tinha amigos. três em quem poderia confiar. costumava falar que eram quatro, pois acreditava na namorada.

ia de encontro a quem lhe chamasse. era um rapaz esforçado. honrado. sonhava em viajar e largar mão de viver preso em uma capital provinciana. sabia nada de rolling stones e amava beatles.

amava e acreditava ser amado. acredita-se que sim. diz-se que sim. e era mesmo. às vezes era uma contradição: disfarçava tristeza com humor. bom humor e piadas. inventava estórias. e gostava de silêncio, escritas e às vezes ausências. não gostava que chegassem sem avisar.

nadava contra a corrente. debatia-se preso em correntes. dançava tango no teto e samba na laje. era um rapaz esforçado. não costumava brigar com a amada e evitava brigas noturnas. fazia versos e amor até mais tarde e ainda tinha que acordar cedo de manhã.

acreditava na paciência, no amor, não acreditava no lula, não entendia porque o vercilo imitava o djavan e não sabia onde estava belchior, mas era seu fã. cantava. escrevia. sorria. falava de negócios. era um cidadão urbano.

p.s.: “como não sabia o que ia acontecer aproveitava e dançava no teto.” (jay vaquer)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

espera




frei serafim. teresina. 18 horas. sentado num banquinho, elvis presley  no ouvido, arnaldo antunes nas mãos. abre a página branca contra fraquezas travestidas de virtudes. à vista, uma estranha árvore de natal e a estátua de wall ferraz. "ídolo", segundo ele. já tomou umas e outras, encostado na estátua.

agora está quieto. os carros passam, o trânsito está uma loucura e foi tomado por uns imbecis. de repente, fica impaciente. está à espera de alguém. ela não chega. ele odeia esperar. sms enviado. é o terceiro dia seguido que ele espera e ela não aparece. nada, nenhum sinal nos outros dois e por enquanto, terceiro dia, nenhum sinal.

a espera parece inútil e decepcionante como esperar chuva no sertão. a sorte é que ele é um cara paciente. e esforçado. parece disposto a esperar. tem um olhar amargurado, mas não foi sempre assim não. já foi um grande farrista. um boêmio. talvez essas duas coisas que ele era estejam ligadas à tristezas e arrependimentos. e amarguras.

a garota por quem espera segundo dizem, traz consigo experiência de sobra com essas coisas de amar. parece ter medo de se apaixonar e tem sempre um pé atrás, teme que possam fazê-la sofrer a qualquer momento. mas pelo que se sabe ele não é desse tipo. ele não causará sofrimentos.

ele também já sofreu bastante, mas isso não o fez desistir do amor. pelo contrário, fez acreditar cada vez mais, fez aprender que mais dia menos noite encontraria alguém que o merecesse, alguém em quem pudesse confiar. a vida parece ter lhe dado mais uma chance, mas acontece que parece que a garota por quem espera não aparecerá mais uma vez. parece não acreditar mais no amor.

quando ela não apareceu no primeiro dia, pensou que houve algum imprevisto. algo que a impediu até mesmo de ligar ou atender ao telefone. no segundo dia, chegou a pensar em imprevisto, mas também pensou que poderia ser um fora mesmo. que ela não queria conversa com ele.

então prometeu não esperar mais, não ligar, não se preocupar. prometeu até mesmo não amar. prometeu tudo bonitinho, mas não cumpriu nada. na teoria ficou tudo bem, mas na prática nada funcionou. ligou algumas vezes e foi procurá-la e esperá-la mais uma vez. a espera segue inútil e decepcionante.

talvez comece a desacreditar no amor. mais dia menos noite pode aparecer uma descrença nessa coisa meio louca que é esse tal do amor. um pouco de álcool e solidão poderiam fazer bem.

segundo chico buarque, o amor não tem pressa e pode esperar. mas é preciso entender que quem ama tem pressa e não tem todo o tempo do mundo pra esperar. talvez aquele rapaz espere por mais uns três dias ou um mês, mas um dia ele cansará dessa espera. desistirá. até que um dia possa encontrar um amor tranqüilo, desses que não exijam tanta demonstração dos sentimentos para se sentir seguro. o amor pode esperar, mas aqueles que amam não esperarão pra sempre.

certamente ele continuará por mais alguns minutos a esperá-la. só por hoje ele irá esperar. pode ser que só por hoje ele ligue, mande mensagens, recados, vibrações positivas e flores. e amanhã, quando desistir, pode ser que ela sinta falta de tanta demonstração de carinho, amor e afeto. e pode ser que apareça ao encontro marcado. e pode ser que ela tenha que esperar de forma inútil e decepcionante como esperar chuva no sertão. a vida tem dessas coisas.

ps: "‘we can't go on together with suspicious minds. and we can't build our dreams on suspicious mind.” (elvis presley).

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Os outros



Estão se especializando em fazer tudo errado. Em sabotar seus sentimentos. Inventam brigas, dão credibilidade às conversas alheias, eles parecem não se dar conta que isso é ruim apenas pra eles.

(Quase) ninguém vai dar a mínima se eles terminarem. E eles parecem fazer questão de pôr em prática qualquer coisa que os faça sofrer. Qualquer coisa que lembre as desilusões de entusiasmo. Ele insiste em contar algumas coisas do seu passado erótico. Ela sofre de ciúme retrospectivo.

De fato, têm medo de algo sério e aí ficam presos às conversas sem sentido. Às estórias mal contadas. Como se sabe, a vida segue e não anda nada fácil, então, por que dificultar ainda mais? Por que, como disse Roberto Carlos, dá ouvidos à maldade alheia?

Deixe que digam que pensem que falem e isso aqui não é música do Jair Rodrigues. São conselhos. Uma conversa no deserto. Dentro dos meus 'achismos', é o que acho que é bom, que pode ser aceito. Diferentemente daquelas outras idéias daquela gente que não apresenta nada bom.

'Não dê ouvidos à maldade alheia'. Isso aqui não é música do Roberto Carlos. E deixem de estupidez. Olha, isso de ouvir coisas de quem lhes quer bem acontece poucas vezes em uma vida e é preciso aproveitar. É preciso ter serenidade. É preciso não sabotar os sentimentos. É preciso dar um jeito de não deixar de se amar. 'Não dê ouvidos à maldade alheia'.

É preciso largar mão de ser cabeça dura. Não podem ser estúpidos. Têm que largar essa estupidez idiota que mascara o amor. Não podem ser marionetes, figurantes da própria história. Que os chatos e os que insistem em atrapalhar se danem. Precisam pensar neles mesmos.

'Quantos idiotas vivem sós, sem ter amor?'. Pergunta Roberto Carlos. Querem ser desses idiotas? Eles têm é que teimar e enfrentar o mundo. E os idiotas. E os chatos. E os que são do contra.

É preciso ter cuidado com essa gente que tem coisas contra o amor correspondido. Com essa gente que se espanta quando sente que o amor chegou pra elas ou pra alguém que estar perto. Essa gente foge do amor como pardais quando são assustados.

É preciso não dar atenção aos estúpidos que passam a vida em busca de defeitos no amor alheio. Essa gente sem rumo e sem amor que vive de querer atrapalhar. Essa gente é mais perigosa que uma galinha choca.

Desculpas pelos clichês. E desculpas se isso parecer patético. Mas é que é preciso amar. E sem dar ouvidos a essa gente maldosa. Eles precisam saber disso antes que seja tarde demais e nessa baixura do campeonato, o tarde demais pode ser daqui a três minutos.

Precisam saber que a alegria alheia pode incomodar. Os chatos, os mesquinhos e os idiotas adoram se incomodar com a alegria alheia. São especialistas nisso.

PS: "Deixa o coração ter a mania de insistir em ser feliz. Se o amor é o corte e a cicatriz, pra quê tanto medo?" (Marisa Monte)

PS: ² Tenho trauma de galinha choca. É como se colocassem uma arma na minha cabeça. Juro!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates Brasileiro




Domingo de futebol. De final. De alegrias. E a morte nos faz mais uma falseta e leva o maior democrata do futebol brasileiro. Inteligente, fez jus ao seu nome: Sócrates. Idealista, sonhador e democrata, ele fez jus ao nome: Brasileiro.

Agora me vem à cabeça parte de um poema do piauiense Ramsés Ramos, mas não me vem completo, não consigo lembrá-lo por inteiro, nem com exatidão, mas lembro que diz mais ou menos: ‘com que direito dizemos da morte que ela é um triste acontecimento? Que diria de nós a vida após termos aproveitado todos os seus banquetes?’ segundo Ramsés, a morte deveria ser vista como um encontro marcado. E quem sabe não fosse belo?

Enfim, fica a história, o bom futebol e a certeza de que o futebol teve um homem de caráter entre tantos que faziam e fazem de tudo por um lugar ao sol. Sócrates, democrata, brasileiro e sonhador, deu as costas ao lugar e ao sol da facilidade. Falou contra militares, pregou eleições diretas e foi um dos maiores ídolos do futebol brasileiro. Dos maiores ídolos do Corinthians.

Fica a história. Os toques de calcanhar. O caráter. O bom futebol. A luta pelas democracias brasileira e corintiana. Fica a certeza de que o futebol teve um homem de verdade.

Dos que não vi jogar, Sócrates era um dos melhores. Dono dos melhores e polêmicos comentários da TV. O Doutor do “Cartão Verde”.

PS: "Todos o conheciam por seu diploma de medicina e porque também tinha muitos interesses culturais e sociais. Em suma, era sob todos os pontos de vista um atípico." (Paolo Rossi)