sábado, 15 de novembro de 2014

without you







a ponta do sol fere o horizonte. isso é um pedaço de hai-kai do ramsés ramos. creio que seja dele, não lembro bem. tenho andado triste demais pra lembrar-me de muitas coisas. triste. a ponta do sol fere o horizonte. seguindo a ordem natural, o anoitecer. anoitecer melancólico, diga-se. entre estes dois eventos, nada interessante. tem sido assim. triste.

minha vida mais parece uma ambientação de  "day after day". e pra não dizer que não falei das novidades, conheci badfinger recentemente. tenho ouvido constantemente. dia após dia. 'e todo dia o meu pensamento é sobre você'.

as tristezas que tenho sentido todos esses dias são indescritíveis. nunca mais ouvi flowers in the window porque lembro das flores que eu te dava e você expunha na janela do seu quarto. nunca mais comprei flores. o passado está contido no meu presente, nos meus ressentimentos, nas melancolias que me dominam às três da manhã e que me deixam absolutamente inconsolável. nem amigos, nem bebidas, nem estudos ou trabalho, nem vitórias do meu time - tão escassas - absolutamente nada me faz sair deste sofrer avassalador.

é incompreensível que tanto amor e amizade tenham agonizado e falecido dessa forma. e eu tenho vivido angustiado porque essa é a melhor saída. pelo menos por enquanto. ou o sujeito se angustia ou apodrece, conforme disse nelson rodrigues. então tenho sido assim. triste.

ah, como tem sido longa e contínua a minha luta contra a tristeza! e como tenho perdido vergonhosamente esta batalha. foi-se embora o otimismo avassalador de outra época, do tempo em que estávamos juntos ou de quando eu nem te conhecia e vivia tranquilamente, sem medos, pensando no grande amor que um dia eu viveria. e vivi. e quereria reviver, embora seja impossível. o sofrer é uma auto-tortura. a agonia que vivo chega a ser uma coisa delirante. triste.

os olhares de todos os meus amigos, sem exceção, apresentam uma certa ternura piedosa. lastimam o meu sofrer como lastimo o fim infeliz, que não deixa de ser um sinal de incompetência. as coisas seguirão tristes por mais alguns dias, sem qualquer rumor de alegria. constato isso porque nada, absolutamente nada, me faz pensar diferente. as músicas que ouço são tristes, os livros que leio idem, as estórias que invento são de uma tristeza abissal, os jogos do meu time são tristes e desesperadores. vivo cercado pela tristeza. o amor que trago guardado no peito me faz ser triste, sofrido, carente, mas não há uma única possibilidade de alegria, diferente da canção do benito.

eu mergulho no sofá, noto a solidão e ponho filme triste. eu vou pro quarto, noto a solidão e ouço alguma canção triste, daquelas que tomam conta de todo o ambiente. e ainda que esteja em companhia, é da mais gigantesca solidão o sentimento.

p.s.: "teus lábios, taças de amor que me embriagaram, se esgotaram, não vão mais me embriagar". (zé viola).