quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Bonita II (Sweet Surrender)




Um vento tímido balança a árvore vizinha, e ele, ainda mais tímido, controla-se para não balançar as pernas, enquanto se olham e riem. Pensa nas palavras, ensaia mentalmente, ela ri como se sabendo o que pretendia dizer. Ele trava o que pretendia dizer. Começa. Recomeça. Tre-recomeça. Ela ri. Ele poderia pedir mais água, um abraço, poderia elogiar o vestido florado, o sorriso, falar que ela está mais bonita, mais madura, apontar para a gatinha deitada na rua, ganhar tempo, mas nesse caso ganhar tempo seria perder e já perdeu tanto.
Ela ri. A ele faltam as palavras que lhe sobram quando escreve. Um estalo. Recomeça. Fala sobre aflições, medo de merecer, esquina do coração. Tropeça nas palavras, mas segue, fala, declara. Saiu um caminhão dos ombros. Faz-se alívio, coragem, coração por inteiro.
Seguiu-se a conversa. Se possível fosse quereria ver o próprio olhar, mas outro meio que não fosse espelho. Seria estranho olhar-se no espelho enquanto falava. Mas julgava que em seu olhar havia algo parecido com um brilho eterno de uma felicidade porvir. O vento mantinha-se tímido, ele nem tanto, mas ansioso. Timidez passou a ser coisa dela. Conversas, risos, mãos dadas.
O horário já não é mais cedo. Um até breve. Mais à vontade, a vontade é de não mais sair desse abraço, de não mais parar de sorrir o riso bobo, porque já faz alguns dias que onde havia pranto passou a existir sorriso. E onde havia a impregnação de personagens tristes e ambientação de “why does It always rain on me” passou a existir felicidade e bom pressentimento e um repeat de “amei te ver”, que Tiago Iorc fez pra eles.
Volta pra casa ouvindo e cantarolando Sweet Surrender (Bread) e aguarda ansioso pelo próximo passo desse novo caminho.
O amor sempre espera pelos abraços atrasados. Pensou. Não lembra onde ouviu ou leu, mas concorda plenamente.

P.S.: “O coração dispara, tropeça, quase para, me encaixo no teu cheiro e ali me deixo inteiro, eu amei te ver” (Tiago Iorc).