sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Domingo





Não nos sobrou nada além de uns papéis para rasgar, umas promessas não cumpridas e essa angústia por não saber pra onde ir. Pensei cair em prantos, dormir na rua, beber os mares, fazer qualquer coisa. Odeio domingo! Por que um casal acaba? Eu sempre me pergunto, eu nunca me respondo, jamais encontrei quem respondesse.

Não existe uma culpa específica pra esse fim. Não faltou amor, nem dedicação, talvez tenha sido a falta de jeito de colocar as coisas em prática, talvez a dedicação tenha sido errada, vai ver o amor foi entregue de um jeito errado. 

Daqui a algum tempo saberemos o que ficou pra trás. O jardim precisa de cuidado. Você também. E eu também. Vê se não perde o teu olhar confiante, vê se não deixa tudo pra trás na primeira curva, lembra de mim, lembra da gente, ouve aquela canção.  

Será que saberemos lidar com os planos desfeitos? Será que teremos força? Como deixamos que tudo ficasse tão sem jeito? Todo fim infeliz não deixa de ser um sinal de incompetência. 

Dessa vez, eu sei, não tem caminho da volta. Por que ficamos tão sem jeito? Por quê? 

Nossos amigos são os mesmos, será que precisaremos dividi-los também? Quando for encontrá-los, avise-me., não aparecerei, pelo menos por esses dias. Por esses dias não nos veremos, eu ainda não sei bem como vai ser quando nos encontrarmos. Ah! Quando passar por mim, olha pra mim, fala comigo, não podemos nos tratar como dois estranhos. 

Nosso amor passa longe de já ter tido as coisas boas de um grande amor. Ainda falta algo mais, uma viagem, um samba, mas já é sem jeito, falta tempo pra encomendar as coisas boas que faltam pro nosso amor. Esperamos, mas nem sabíamos o quê. Eu esperei, você esperou, nenhum dos dois fez nada suficiente e aqui estamos nós. Já nem somos nós. 

Pensei que seria eterno conforme prometemos, conforme planejamos, mas vieram os anos, vieram as coisas ruins, veio a falta de tempo, a sensação de não podermos fazer nada e quando demos por nós estávamos sentados à beira de um caminho, à espera de um carinho e assistindo o fim de tudo. E se tivéssemos reagido melhor? É tarde! É tarde! É tarde, eu sei. Sabemos. 

Recordo agora aquela música do Sergio Sampaio que a tua amiga tanto cantava e me pergunto se é tudo mesmo como ele fala. Se for, é errado. Não pode ser na base do “tudo o que se ganha nessa vida é pra perder”. Não pode, isso é muito derrotista. 

Enfim, os sentimentos que ficam desse grande amor – pelo menos por uns dias, semanas ou meses – serão solidão e saudade. 

Chegou o táxi, hora de ir. Ah! Por favor, não esqueça a manutenção do carro, pague as prestações da cama que era nossa, regue o jardim, cuide das crianças e torça pra eu não ficar tropeçando bêbado por aí e contando minha vida em qualquer bar, qualquer esquina. 

Seja feliz. Que sejamos felizes! 

P.s.: “Não fui eu, nem Deus, não foi você, nem foi ninguém, tudo o que se ganha nessa vida é pra perder.” (Sergio Sampaio).

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Por descuido ou displicência






Lado a lado, na mesma rua, mesma roda de samba. 
Corda bamba. 
Lado a lado, na chuva, no breu. 
Tempestade em copo d'água. 


Lado a lado, o mesmo passo, o mesmo olhar. 
Olhos fitam o vazio. 
Lado a lado, a mesma canção, a insônia. 
Dúvidas entre os dentes. 


Lado a lado, a solidão fica, a saudade passa. 
Resta-lhe a escuridão da praça. 
Lado a lado, mãos separadas, dedos em riste, olhar cortante. 
Tristeza, a faca de cortar corações. 


Lado a lado, a mesma turma, as mesmas histórias. 
A multidão é ninguém. 
Lado a lado, noite escura, solidão avalassadora. 
Murro em ponta de faca. 


Lado a lado, chaves nas mãos, novo futuro. 
Cara na porta. 
Lado a lado, nova estrada, novo rumo. 
Cai o mundo. 


Lado a lado, gritos, cansaços, teimosias. 
Já não procura carinho. 
Lado a lado, grama, concreto, barro. 
Pisa em espinho. 


Lado a lado, risos, festas, brindes. 
Lágrimas e medo. 
Lado a lado, comemorações, poesias. 
Tristeza no olhar.