sábado, 29 de outubro de 2011

Minha amiga!





É tão meu esse teu desamparo.
E essa solidão.
E também essa tua esperança de que tudo há de se ajeitar.
É tão minha essa tua espera.

Minha amiga é triste.
É encantadora e tem sorriso bonito,
Insiste em elogios e se dispõe a tirar as pedras que aparecem no meu caminho.
De fazer inveja a Drummond que não tinha ninguém pra afastar as pedras.
E a Torquato Neto que via as pedras voltarem quando ele chutava.
Ou fingia que chutava.

É tão meu esse teu sorriso repentino.
E essas tuas alegrias. Deveriam ser mais duradouras. Hão de ser.
É tão meu esse teu desamparo.


Citação: "A vida não é fácil. Desamparo é coisa tão normal." (Diogo Andrade)

É tão minha tua alegria. E tua tristeza.
Tão minha a tua amizade e teu carinho.
Minha amiga é generosa.
É gentil e sincera feito Maria Bethânia declamando poesia de Fernando Pessoa.

É tão meu teu desamparo. E segurança.
E tua esperança de que tudo há de se ajeitar.
E tudo há de se ajeitar.

sábado, 22 de outubro de 2011

Fotografias II




Depois de tudo, restou-me a mágoa. O choro e o sofrer tornaram-se freqüentes. A tua presença, outrora negada, tornou-se tão necessária quanto minha respiração.

Depois de tudo ou nada que ficou entre nós, restaram-me o sofrer, um CD, um livro e teu nome tatuado em meu corpo. Restou-me também a marca de teu batom em minha camisa.

Tenho tido saudades palpitantes das nossas tardes. Tenho sido implicante com as minhas vontades. Depois de tudo, ficou o teu sorriso em um retrato preto e branco e os meus poemas que eram teus e você devolveu.

Depois de tudo, restou-me a certeza de que você não voltaria e a dúvida do que seria minha vida sem você. Restou-me a certeza do choro à noite e a dúvida de um sorriso ao amanhecer.

PS: “Tudo o que move o meu pensamento agora são fotografias reunidas no vão de um sonho que acabo de ter...” (Banda Acesso)

sábado, 15 de outubro de 2011

Um papo breve





Tínhamos tudo pra sermos felizes, mas perdemos esse tudo. Por medo, certamente. Fomos muito crianças acreditando que seria pra sempre e que teríamos todo o tempo do mundo.

Não aproveitamos quase nada. Perdemo-nos em coisas insignificantes. "O que vão pensar? O que vai ser de nós?" Tudo isso era tão insignificante, mas mesmo assim nos deixamos abalar. Perdemo-nos. Fomos medrosos.

Desamor é imperdoável. Não nos corrigimos enquanto era tempo. Não nos emendamos. Perdemos todo amor que sentíamos porque tivemos medo. Veja bem, morena: agora que tudo é sem tempo e sem conserto e que os erros nos ensinam, é que descobrimos a verdade.

Nossas verdades: O medo. A vontade de desistir.

Quando tivermos oitenta anos, ainda teremos algum tipo de resignação. Ainda teremos conosco o "e se". “E se tivéssemos tentado? E se tivéssemos ido adiante?” Tudo isso e muito mais.

Talvez não seja motivo de arrependimento, pois sei que até lá estaremos bem. Vivendo bem a vida, mas haverá sempre esse questionamento. Mas perguntaremos: "E se tivéssemos tentado?".

Além do medo, a mentira. Mentíamos pra nós mesmos acreditando que isso ajudava a tornar a verdade mais verossímil, mais acreditável.

Perdemo-nos. No meio do caminho vieram as perdas. De amor, de carinho, de saudade quando distantes e da verdade. Perdemos até a gentileza e a sinceridade. Você era gentil e sincera feito Gal Costa cantando ‘Nenhuma dor’.

A vida tem dessas coisas, veja só nós dois aqui num banco da av. Frei Serafim, conversando essas coisas depois de um encontro casual enquanto o ônibus não vem e tendo a conversa que não tivemos em um ano juntos. Conversando essas coisas de alguns anos atrás.

Depois de tudo, o que importa mesmo é que tenhamos gosto por viver. Os caminhos são longos e cheios de perdas. E pedras. E somos quase sempre tolos e inseguros.  O que importa é que não haja mais medo. E que reconheçamos o que foi deixado pra trás.

O desamor é imperdoável e você sempre soube disso. Aprendi depois, tarde e com os erros. Talvez o que tenho comigo é um certo remorso. Não é amor, eu sei. Deve ser mesmo remorso. E a antecipação das perguntas que serão feitas quando tivermos 80 anos.

Lá vem o ônibus, não perca a condução. E leve esse livro com você. Tem coisas que só o Erasmo de Rotterdam explica.

PS: “Um papo breve e tão sutil, depois de tudo, me confundiu. Eu tô de novo na chuva, você em terra firme, sempre certa do que dizer, pois só você manda em você.” (Vitor Ramil).