terça-feira, 30 de setembro de 2014

Amanhece



      O pardal dá o primeiro vôo do dia, o jornal chega, a fábrica abre, o casal paga o pernoite, o vigia vai dormir, o Promorar via Shopping passa, os bares fecham. Sobra cerveja e falta sono, sobra saudade e falta você. À essa hora, semanas atrás, estávamos perdidos de tanto amor. Hoje, o que se perde é o sono.

       Eu soube através de um amigo que você ainda pergunta por mim e finge gostosas risadas pra dar a entender que tudo está bem. Disse que você tem se escondido em palavras de desamor e esquecimento, mas seu olhar denuncia que é inverdade o ódio.

       E, conforme poderia cantar Lázaro do Piauí, “quando está sozinha você chora” (carece de fontes)

       Começou temporal. Não, não é chuva. Começou no player. “é, até parece que o amor não deu, até parece que não soube amaaaaaaaaaaar” - Art Popular. Não soube amar, não soubemos amar, ninguém sabe nada, e isto parece notícia de depoimento de CPI. Parece a turma diante de uma prova do Ivanildo. Lembra? Odeio cálculo I!

     Como têm sido os seus dias nestas últimas semanas? Você viu que o Palmeiras perdeu de seis? Quantas perdas ultimamente, alliás. Perdi você, perdi minha carteira, perdi aquele livro do José Serra, perdi meu perfil no orkut e perdi o senso do ridículo dia desses, quando, devidamente bêbado e encostado em um juck box cantei “pra te lembrar”. O bar estava lotado. Foi naquele onde te conheci depois de te mandar mensagem num guardanapo “boa noite! acabou a cerveja aqui, vamos outros bares?”. Que setembro ruim!

     E quando você sair pra dançar não terá mais o meu braço a ter circular. E quando acordar seus braços passearão por uma cama vazia de mim. Ninguém nunca mais vai rir das minhas estórias como você, ninguém tem o sorriso tão cativante.

     Ainda odeio cacofonia, odiarei pra sempre. Eu chegava a te odiar quando cê dizia “mande-me já uma mensagem de voz”. Você fazia isso de propósito! Cacofonia é um porre. Pelo menos me livrei disso. E livrei-me dessa tua mania de falar piadas do site Dilma Bolada. Era constrangedor. Eu ria porque queria fazer média e tal.

       Por fim, agora que chega ao fim este mês de setembro, agora que o padeiro acaba de fazer os pães, agora que o carinha que vende beju passou e a minha paciência tende a acabar, agora é hora de dormir. 

       “Hoje eu não vou trabalhar: pouco me importa o dinheiro” (Molejo).

      Quanto a você, não esqueça de ler e devolver o livro de memórias do Lacerda, ouça e devolva o SPC – Acústico, assista e devolva “Encontro às escuras” e entregue o meu dólar da sorte.

       À praça chega jornal novo. Amanhece.

      P.S.: “Todos meus planos foram por ti derrotados e amortalhados para o tempo sepultar” (Zé Viola)