terça-feira, 20 de dezembro de 2011

pretérito




lia três livros por semana e pensava saber tudo da vida. e sabia. não tudo, quase tudo. obstinado, falava três línguas por dia. estudava três cursos por semestre. e vivia um grande amor há três meses. sentia um grande amor.

unia o útil ao agradável. unia pink floyd a led zeppelin e fazia as pazes antes mesmo de entrar em confusão. dizia que era pra evitar desgastes desnecessários.

chegava sempre atrasado e odiava atrasos alheios. um pouco de álcool e solidão faziam esquecer alguns desequilíbrios. tinha amigos. três em quem poderia confiar. costumava falar que eram quatro, pois acreditava na namorada.

ia de encontro a quem lhe chamasse. era um rapaz esforçado. honrado. sonhava em viajar e largar mão de viver preso em uma capital provinciana. sabia nada de rolling stones e amava beatles.

amava e acreditava ser amado. acredita-se que sim. diz-se que sim. e era mesmo. às vezes era uma contradição: disfarçava tristeza com humor. bom humor e piadas. inventava estórias. e gostava de silêncio, escritas e às vezes ausências. não gostava que chegassem sem avisar.

nadava contra a corrente. debatia-se preso em correntes. dançava tango no teto e samba na laje. era um rapaz esforçado. não costumava brigar com a amada e evitava brigas noturnas. fazia versos e amor até mais tarde e ainda tinha que acordar cedo de manhã.

acreditava na paciência, no amor, não acreditava no lula, não entendia porque o vercilo imitava o djavan e não sabia onde estava belchior, mas era seu fã. cantava. escrevia. sorria. falava de negócios. era um cidadão urbano.

p.s.: “como não sabia o que ia acontecer aproveitava e dançava no teto.” (jay vaquer)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

espera




frei serafim. teresina. 18 horas. sentado num banquinho, elvis presley  no ouvido, arnaldo antunes nas mãos. abre a página branca contra fraquezas travestidas de virtudes. à vista, uma estranha árvore de natal e a estátua de wall ferraz. "ídolo", segundo ele. já tomou umas e outras, encostado na estátua.

agora está quieto. os carros passam, o trânsito está uma loucura e foi tomado por uns imbecis. de repente, fica impaciente. está à espera de alguém. ela não chega. ele odeia esperar. sms enviado. é o terceiro dia seguido que ele espera e ela não aparece. nada, nenhum sinal nos outros dois e por enquanto, terceiro dia, nenhum sinal.

a espera parece inútil e decepcionante como esperar chuva no sertão. a sorte é que ele é um cara paciente. e esforçado. parece disposto a esperar. tem um olhar amargurado, mas não foi sempre assim não. já foi um grande farrista. um boêmio. talvez essas duas coisas que ele era estejam ligadas à tristezas e arrependimentos. e amarguras.

a garota por quem espera segundo dizem, traz consigo experiência de sobra com essas coisas de amar. parece ter medo de se apaixonar e tem sempre um pé atrás, teme que possam fazê-la sofrer a qualquer momento. mas pelo que se sabe ele não é desse tipo. ele não causará sofrimentos.

ele também já sofreu bastante, mas isso não o fez desistir do amor. pelo contrário, fez acreditar cada vez mais, fez aprender que mais dia menos noite encontraria alguém que o merecesse, alguém em quem pudesse confiar. a vida parece ter lhe dado mais uma chance, mas acontece que parece que a garota por quem espera não aparecerá mais uma vez. parece não acreditar mais no amor.

quando ela não apareceu no primeiro dia, pensou que houve algum imprevisto. algo que a impediu até mesmo de ligar ou atender ao telefone. no segundo dia, chegou a pensar em imprevisto, mas também pensou que poderia ser um fora mesmo. que ela não queria conversa com ele.

então prometeu não esperar mais, não ligar, não se preocupar. prometeu até mesmo não amar. prometeu tudo bonitinho, mas não cumpriu nada. na teoria ficou tudo bem, mas na prática nada funcionou. ligou algumas vezes e foi procurá-la e esperá-la mais uma vez. a espera segue inútil e decepcionante.

talvez comece a desacreditar no amor. mais dia menos noite pode aparecer uma descrença nessa coisa meio louca que é esse tal do amor. um pouco de álcool e solidão poderiam fazer bem.

segundo chico buarque, o amor não tem pressa e pode esperar. mas é preciso entender que quem ama tem pressa e não tem todo o tempo do mundo pra esperar. talvez aquele rapaz espere por mais uns três dias ou um mês, mas um dia ele cansará dessa espera. desistirá. até que um dia possa encontrar um amor tranqüilo, desses que não exijam tanta demonstração dos sentimentos para se sentir seguro. o amor pode esperar, mas aqueles que amam não esperarão pra sempre.

certamente ele continuará por mais alguns minutos a esperá-la. só por hoje ele irá esperar. pode ser que só por hoje ele ligue, mande mensagens, recados, vibrações positivas e flores. e amanhã, quando desistir, pode ser que ela sinta falta de tanta demonstração de carinho, amor e afeto. e pode ser que apareça ao encontro marcado. e pode ser que ela tenha que esperar de forma inútil e decepcionante como esperar chuva no sertão. a vida tem dessas coisas.

ps: "‘we can't go on together with suspicious minds. and we can't build our dreams on suspicious mind.” (elvis presley).

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Os outros



Estão se especializando em fazer tudo errado. Em sabotar seus sentimentos. Inventam brigas, dão credibilidade às conversas alheias, eles parecem não se dar conta que isso é ruim apenas pra eles.

(Quase) ninguém vai dar a mínima se eles terminarem. E eles parecem fazer questão de pôr em prática qualquer coisa que os faça sofrer. Qualquer coisa que lembre as desilusões de entusiasmo. Ele insiste em contar algumas coisas do seu passado erótico. Ela sofre de ciúme retrospectivo.

De fato, têm medo de algo sério e aí ficam presos às conversas sem sentido. Às estórias mal contadas. Como se sabe, a vida segue e não anda nada fácil, então, por que dificultar ainda mais? Por que, como disse Roberto Carlos, dá ouvidos à maldade alheia?

Deixe que digam que pensem que falem e isso aqui não é música do Jair Rodrigues. São conselhos. Uma conversa no deserto. Dentro dos meus 'achismos', é o que acho que é bom, que pode ser aceito. Diferentemente daquelas outras idéias daquela gente que não apresenta nada bom.

'Não dê ouvidos à maldade alheia'. Isso aqui não é música do Roberto Carlos. E deixem de estupidez. Olha, isso de ouvir coisas de quem lhes quer bem acontece poucas vezes em uma vida e é preciso aproveitar. É preciso ter serenidade. É preciso não sabotar os sentimentos. É preciso dar um jeito de não deixar de se amar. 'Não dê ouvidos à maldade alheia'.

É preciso largar mão de ser cabeça dura. Não podem ser estúpidos. Têm que largar essa estupidez idiota que mascara o amor. Não podem ser marionetes, figurantes da própria história. Que os chatos e os que insistem em atrapalhar se danem. Precisam pensar neles mesmos.

'Quantos idiotas vivem sós, sem ter amor?'. Pergunta Roberto Carlos. Querem ser desses idiotas? Eles têm é que teimar e enfrentar o mundo. E os idiotas. E os chatos. E os que são do contra.

É preciso ter cuidado com essa gente que tem coisas contra o amor correspondido. Com essa gente que se espanta quando sente que o amor chegou pra elas ou pra alguém que estar perto. Essa gente foge do amor como pardais quando são assustados.

É preciso não dar atenção aos estúpidos que passam a vida em busca de defeitos no amor alheio. Essa gente sem rumo e sem amor que vive de querer atrapalhar. Essa gente é mais perigosa que uma galinha choca.

Desculpas pelos clichês. E desculpas se isso parecer patético. Mas é que é preciso amar. E sem dar ouvidos a essa gente maldosa. Eles precisam saber disso antes que seja tarde demais e nessa baixura do campeonato, o tarde demais pode ser daqui a três minutos.

Precisam saber que a alegria alheia pode incomodar. Os chatos, os mesquinhos e os idiotas adoram se incomodar com a alegria alheia. São especialistas nisso.

PS: "Deixa o coração ter a mania de insistir em ser feliz. Se o amor é o corte e a cicatriz, pra quê tanto medo?" (Marisa Monte)

PS: ² Tenho trauma de galinha choca. É como se colocassem uma arma na minha cabeça. Juro!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates Brasileiro




Domingo de futebol. De final. De alegrias. E a morte nos faz mais uma falseta e leva o maior democrata do futebol brasileiro. Inteligente, fez jus ao seu nome: Sócrates. Idealista, sonhador e democrata, ele fez jus ao nome: Brasileiro.

Agora me vem à cabeça parte de um poema do piauiense Ramsés Ramos, mas não me vem completo, não consigo lembrá-lo por inteiro, nem com exatidão, mas lembro que diz mais ou menos: ‘com que direito dizemos da morte que ela é um triste acontecimento? Que diria de nós a vida após termos aproveitado todos os seus banquetes?’ segundo Ramsés, a morte deveria ser vista como um encontro marcado. E quem sabe não fosse belo?

Enfim, fica a história, o bom futebol e a certeza de que o futebol teve um homem de caráter entre tantos que faziam e fazem de tudo por um lugar ao sol. Sócrates, democrata, brasileiro e sonhador, deu as costas ao lugar e ao sol da facilidade. Falou contra militares, pregou eleições diretas e foi um dos maiores ídolos do futebol brasileiro. Dos maiores ídolos do Corinthians.

Fica a história. Os toques de calcanhar. O caráter. O bom futebol. A luta pelas democracias brasileira e corintiana. Fica a certeza de que o futebol teve um homem de verdade.

Dos que não vi jogar, Sócrates era um dos melhores. Dono dos melhores e polêmicos comentários da TV. O Doutor do “Cartão Verde”.

PS: "Todos o conheciam por seu diploma de medicina e porque também tinha muitos interesses culturais e sociais. Em suma, era sob todos os pontos de vista um atípico." (Paolo Rossi)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

sossegue!




não precisa se cobrar tanto. nem se cobrir de medos. não se cobre demais. sossegue! não precisa seguir por aí melancólico. besteira resistir à tua força de vontade e ao que é bom. sossegue! e siga adiante. faça por você. não precisa se cobrar tanto. nem se cobrir de insegurança.

seja feliz! seja feliz! não se apegue aos erros. não apague os acertos. sossegue! não existe felicidade em seguir por aí triste. é preciso se reinventar. sossegue! não se aborreça com o que não deu certo. se apegue, por hora, ao que está perto. tudo pode dar certo.

sossegue! e essas pedras no caminho? chute. mas chute mesmo, não seja como aquele poeta que fingia chutar. é preciso dizer não. sossegue! as negativas fazem parte da vida. não guarde sono, não seja tolo, seja feliz e sossegue. não guarde rancor. e nem dinheiro.

gaste dinheiro. e mande embora o que existir de rancor. sossegue! a vida é assim mesmo. não se entristeça muito. chore, mas é preciso ter cuidado. é preciso ter felicidade. é preciso sossegar. sossegue! não se exalte.

veja o mundo de braços abertos pra você, olha o sol, agradeça pela vida, pelas músicas e pelas moças de pernas bonitas que passam nas esquinas. sossegue! beba uma cerveja, largue o cigarro.

amanhã é segunda, depois feriado. sossegue! não se exalte. deixe de lado as angústias. pense nos futuros, mas não se exalte, é preciso ter calma, primeiro o que está perto, pois o que importa é o agora. sossegue!

é preciso ter amor. e amar. amar pra sempre, pra todas as noites, sem se preocupar quando será o fim desse pra sempre. sossegue! seja forte! seja feliz! seja feliz! a vida é assim mesmo, como dizem os mais velhos e o poeta.

não, eu não vou me alongar nessa conversa.

ps: “[...] sabe, nós nem somos mais crianças, hoje a escolha é água em nossas mãos, você tem que ter mais confiança [...]” (diogo andrade)

sábado, 29 de outubro de 2011

Minha amiga!





É tão meu esse teu desamparo.
E essa solidão.
E também essa tua esperança de que tudo há de se ajeitar.
É tão minha essa tua espera.

Minha amiga é triste.
É encantadora e tem sorriso bonito,
Insiste em elogios e se dispõe a tirar as pedras que aparecem no meu caminho.
De fazer inveja a Drummond que não tinha ninguém pra afastar as pedras.
E a Torquato Neto que via as pedras voltarem quando ele chutava.
Ou fingia que chutava.

É tão meu esse teu sorriso repentino.
E essas tuas alegrias. Deveriam ser mais duradouras. Hão de ser.
É tão meu esse teu desamparo.


Citação: "A vida não é fácil. Desamparo é coisa tão normal." (Diogo Andrade)

É tão minha tua alegria. E tua tristeza.
Tão minha a tua amizade e teu carinho.
Minha amiga é generosa.
É gentil e sincera feito Maria Bethânia declamando poesia de Fernando Pessoa.

É tão meu teu desamparo. E segurança.
E tua esperança de que tudo há de se ajeitar.
E tudo há de se ajeitar.

sábado, 22 de outubro de 2011

Fotografias II




Depois de tudo, restou-me a mágoa. O choro e o sofrer tornaram-se freqüentes. A tua presença, outrora negada, tornou-se tão necessária quanto minha respiração.

Depois de tudo ou nada que ficou entre nós, restaram-me o sofrer, um CD, um livro e teu nome tatuado em meu corpo. Restou-me também a marca de teu batom em minha camisa.

Tenho tido saudades palpitantes das nossas tardes. Tenho sido implicante com as minhas vontades. Depois de tudo, ficou o teu sorriso em um retrato preto e branco e os meus poemas que eram teus e você devolveu.

Depois de tudo, restou-me a certeza de que você não voltaria e a dúvida do que seria minha vida sem você. Restou-me a certeza do choro à noite e a dúvida de um sorriso ao amanhecer.

PS: “Tudo o que move o meu pensamento agora são fotografias reunidas no vão de um sonho que acabo de ter...” (Banda Acesso)

sábado, 15 de outubro de 2011

Um papo breve





Tínhamos tudo pra sermos felizes, mas perdemos esse tudo. Por medo, certamente. Fomos muito crianças acreditando que seria pra sempre e que teríamos todo o tempo do mundo.

Não aproveitamos quase nada. Perdemo-nos em coisas insignificantes. "O que vão pensar? O que vai ser de nós?" Tudo isso era tão insignificante, mas mesmo assim nos deixamos abalar. Perdemo-nos. Fomos medrosos.

Desamor é imperdoável. Não nos corrigimos enquanto era tempo. Não nos emendamos. Perdemos todo amor que sentíamos porque tivemos medo. Veja bem, morena: agora que tudo é sem tempo e sem conserto e que os erros nos ensinam, é que descobrimos a verdade.

Nossas verdades: O medo. A vontade de desistir.

Quando tivermos oitenta anos, ainda teremos algum tipo de resignação. Ainda teremos conosco o "e se". “E se tivéssemos tentado? E se tivéssemos ido adiante?” Tudo isso e muito mais.

Talvez não seja motivo de arrependimento, pois sei que até lá estaremos bem. Vivendo bem a vida, mas haverá sempre esse questionamento. Mas perguntaremos: "E se tivéssemos tentado?".

Além do medo, a mentira. Mentíamos pra nós mesmos acreditando que isso ajudava a tornar a verdade mais verossímil, mais acreditável.

Perdemo-nos. No meio do caminho vieram as perdas. De amor, de carinho, de saudade quando distantes e da verdade. Perdemos até a gentileza e a sinceridade. Você era gentil e sincera feito Gal Costa cantando ‘Nenhuma dor’.

A vida tem dessas coisas, veja só nós dois aqui num banco da av. Frei Serafim, conversando essas coisas depois de um encontro casual enquanto o ônibus não vem e tendo a conversa que não tivemos em um ano juntos. Conversando essas coisas de alguns anos atrás.

Depois de tudo, o que importa mesmo é que tenhamos gosto por viver. Os caminhos são longos e cheios de perdas. E pedras. E somos quase sempre tolos e inseguros.  O que importa é que não haja mais medo. E que reconheçamos o que foi deixado pra trás.

O desamor é imperdoável e você sempre soube disso. Aprendi depois, tarde e com os erros. Talvez o que tenho comigo é um certo remorso. Não é amor, eu sei. Deve ser mesmo remorso. E a antecipação das perguntas que serão feitas quando tivermos 80 anos.

Lá vem o ônibus, não perca a condução. E leve esse livro com você. Tem coisas que só o Erasmo de Rotterdam explica.

PS: “Um papo breve e tão sutil, depois de tudo, me confundiu. Eu tô de novo na chuva, você em terra firme, sempre certa do que dizer, pois só você manda em você.” (Vitor Ramil).

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cuidar de Amor exige mestria




Passava as noites vagabundeando pelas ruas e bares da cidade. Juntava-se a alguns amigos e saiam pras festas. Realmente estava diferente. Nunca foi assim. De sair pras farras em dias que antecediam o trabalho. Algumas vezes chegou à sua casa quase na hora de ir trabalhar.

Um banho, meia hora de sono e já era hora de trabalhar. Parecia cara de ressaca, mas era embriaguez mesmo. Pensava nela o tempo todo e ficava a ouvir Leoni. “50 receitas”. Continha o choro.

Perdia aulas. Às vezes, chato feito o carinha da música 'Lígia', do Tom Jobim, chegou a perder "amigos". Seu (mau) humor fez com que ele perdesse amigos. E as piadas.

Soube que ela andava lamentando o fim do namoro. Ele também fazia o mesmo e até pensava em procurá-la, mas desistia. Parecia ter nascido pra desistir. Os sofrimentos por amor que ele acumulou durante tanto tempo faziam com que desistisse de procurá-la. "E se ela me disser não? Talvez seja sofrimento passageiro".

Era assim que ele costumava ver essas coisas de amor: Como uma tarde no cais do porto, em que os que vão deixam saudades imediatas, com um prazo de validade.

Às vezes, um de seus amigos saia-se com uma frase lida em 'Dr. Jivago' e lhe perguntava "Mas e se isso não for amor e sim uma embaraçosa gratidão diante da beleza e da generosidade dela?"

Ela era mesmo muito linda, mas ele sabia que todo o seu sentimento não era apenas gratidão por sua beleza ou generosidade. "Coisa mais sem rumo!". Era amor. Nem gratidão nem paixão nem entusiasmo. Era amor. Tentava a todo custo saber como é que se esquece um grande amor. Não fazia idéia.

E esquecer não seria fácil. Tudo o que era dela e que ela levou pra casa dele ainda estava lá. Os CDs, os livros, as roupas pra ela vestir quando acordasse, a sandália que ela “namorou” um dia no shopping e ele comprou. O cheiro.

Um dia resolveu juntar todas essas coisas e devolver. Quando mexia em algumas coisas encontrou, em um pedaço de papel, trecho de uma música do Oswaldo Montenegro: "Cuidar de amor exige mestria."

Ele sabia que não tiveram mestria. Não souberam cuidar do amor. E talvez nem soubessem cuidar outra vez e isso o fez desistir mais uma vez de pedir uma segunda chance. Preferiu ficar só e bem acompanhado com a sua solidão. Preferiu as farras com os amigos.

Enquanto isso tentaria esquecê-la e aprender a dançar. De um jeito ou de outro. Só por uma noite tentou não sofrer. Tentaria depois um novo amor.

PS: “E quando acordar, aonde vai estar? Que roupa vai vestir? Aonde quer chegar?” (Asma - Visconde)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Nem prosa nem poesia




Eu tô ouvindo tua música favorita
Da tua banda favorita. E não
Pense que isso que escreverei agora é poesia. Eu tô
Cortando as frases pra isso não parecer
Prosa.
Eu não quero prosa com você.
Essa solidão parece que é
Minha. Pode ser sua. Eu queria
Saber como você está, mas
Já disse, não quero
Prosa com você.
Nem poesia. Tô cortando
Frases como quem corta relações.
Era pra durar a vida inteira,
Mas foi nem um século. Pouco mais de um
Carnaval.  Não foi.
Será que seria
Diferente se a gente fosse
Mais presente?
Nem sei. E nem quero saber,
Pois não quero prosa com
Você. Tô cortando frases como quem
Corta relações. Deixa! Eu fico com o talvez,
Não pergunto nada a você, não quero
Prosa com você. E tua
Música favorita da tua
Banda favorita está chegando
Ao fim.
E tome nota: não quero prosa com você.
Nem um café. Nem cajuína.
Tente ser feliz. Seja feliz,
Seja feliz.

PS: E se eu quisesse prosa com você perguntaria, por todas de uma vez: quando foi que você ouviu 'Junto', da Validuaté, pela última vez? E porque ela é tua música favorita? Se é que ainda é. (Eu só sei que ela é a música que a gente ria.)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sem dor de saudade'





quero dizer que:
Saiu de mim
Um pouco
Daquele amor
De nós dois.
Só saudade de nós dois.

Sou apenas um saudosista agora:
Ligo amanhã.
bem, meu bem?
Rio e fico bem.
Solitário, rio e fico bem.

Dormirei o sono dos justos:
De manhã te ligo.
Saudade: não sinto mais!
Dor de saudade: não sinto mais.

domingo, 21 de agosto de 2011

Todo o sentimento'




Eu vou ficar pelado na tua rua pra chamar tua atenção. Eu vou cancelar minha inscrição no concurso do TRE-PI, aliás, vou cancelar o TRE-PI inteiro.

Vou passar sujo e parecendo um mendigo na tua rua e bater na tua porta e te pedir um prato de amor. Depois vou invadir a igreja e beber toda a água benta do vigário.

Eu vou te dar aquele livro caro. Perdão! Vou comprar uma livraria inteira com todos os originais do Guimarães Rosa e te dar. Eu vou encomendar a coletânea do Caetano Veloso e te entregar junto com aquele sonho que queríamos realizar.

Eu vou dizer pra todo mundo que te amo. Eu vou gritar, correr, pular, vou fazer tudo pra você me notar. Vou pintar meu cabelo de vermelho e tatuar a estrela do PT no meu braço esquerdo.

Vou fazer coisas inimagináveis só pra você me notar e ler o que está escrito em minha camisa e óbvio no meu olhar: EU TE AMO A PERDER DE VISTA!

Eu vou pular nas tuas pernas e te falar das nossas travessuras e pedir pra repetirmos tudo outra vez. Eu vou gritar bem alto pra que todos ouçam os meus protestos de amor.

Eu vou devotar todo o meu sentimento e repetir, exaustivamente, o poeta Vinícius, e a partir de então, 'de tudo, ao meu amor serei atento, antes’.

PS: [...] "Pretendo descobrir no último momento um tempo que refaz o que desfez, que recolhe o todo sentimento e bota no corpo uma outra vez [...]” (Chico Buarque)

Todo o sentimento



Eu vou ficar pelado na tua rua pra chamar tua atenção. Eu vou cancelar minha inscrição no concurso do TRE-PI, aliás, vou cancelar o TRE-PI inteiro.

Vou passar sujo e parecendo um mendigo na tua rua e bater na tua porta e te pedir um prato de amor. Depois vou invadir a igreja e beber toda a água benta do vigário.

Eu vou te dar aquele livro caro. Perdão! Vou comprar uma livraria inteira com todos os originais do Guimarães Rosa e te dar. Eu vou encomendar a coletânea do Chico Buarque e te entregar junto com aquele sonho que queríamos realizar.

Eu vou dizer pra todo mundo que te amo. Eu vou gritar, correr, pular, vou fazer tudo pra você me notar. Vou pintar meu cabelo de vermelho e tatuar a estrela do PT no meu braço esquerdo.

Vou fazer coisas inimagináveis só pra você me notar e ler o que está escrito em minha camisa e óbvio no meu olhar: EU TE AMO A PERDER DE VISTA!

Eu vou pular nas tuas pernas e te falar das nossas travessuras e pedir pra repetirmos tudo outra vez. Eu vou gritar bem alto pra que todos ouçam os meus protestos de amor.

Eu vou devotar todo o meu sentimento e repetir, exaustivamente, o poeta Vinícius, e a partir de então, 'de tudo, ao meu amor serei atento, antes’.

PS: [...] Pretendo descobrir no último momento um tempo que refaz o que desfez, que recolhe o todo sentimento e bota no corpo uma outra vez [...]” (Chico Buarque)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Primeira pessoa do plural



Tentamos. Fizemos. Lutamos. Desfizemos. Exageramos. Entregamos. Esforçamos.
Entendemos. Satisfizemos. Dançamos. Cantamos. Caminhamos.
Corremos. Saímos. Fomos. Ficamos. Amamos.
Beijamos. Sofremos. Tentamos.
Não conseguimos.
Acabamos.

sábado, 23 de julho de 2011

Veja bem, meu bem!





Com o passar dos tempos e com os passados tempos aprendemos que nos víamos apenas quando morríamos de saudades. Veja (leia?) bem, meu bem, precisávamos ser mais presentes.  Não tem prosa ou poesia que salvem essas relações que teimam em viver de ausências.

Com os passados tempos é que aprendemos que esses encontros de matar saudade não são tão úteis. Precisa-se de mais presenças. Cê sabe. Sabemos. Mas agora é tarde.

Precisávamos de presenças para que pudéssemos unir nossas doses de ironias e tomar nossas doses de Cajuína, ouvindo, pra variar, aquele CD do Caetano. “Drão, o amor da gente é como um grão, uma semente de ilusão”. Lembra?

Nossas ausências fizeram aquele amor morrer. Sabíamos que poderia ser assim. Problema é que fomos crianças e acreditamos que seria pra sempre. Que crianças fomos nós, hein?

De repente, não mais que de repente, aquela coisa de só querer saber do que podia estar perto foi ficando pra trás. Começamos a ficar longe no convívio e nos olhares. Até nos alôs. Alôs?!

Com os passados tempos e com as certezas de que tudo já era sem jeito é que aprendemos que estávamos fazendo quase tudo errado. Acreditávamos demais que teríamos todo o tempo do mundo.

Eu fico comovido de lembrar-me das Cajuínas, das suas doses “ordinárias” de Campari, dos beijos e outras mumunhas e manhas mais. Se tivéssemos sido mais presentes teríamos viajado. Ah, a viagem. E os shows que não fomos?!

Tínhamos qualquer coisa de inconseqüente ou coisa parecida. Medimos esforços e nem nos demos conta que ausências acabam qualquer coisa. Não tem prosa ou poesia que salvem relações que vivem apenas de matar saudade.

Cada sonho teu me abraçava. Ah, o teu sorriso tão doce de olhar e de ouvir!

O certo é que com o passar dos tempos aprendemos a importância da presença. Com os passados tempos aprendemos que não se pode viver apenas de matar saudades.

PS: “[...] E aí me recorda aquela história da gente dançar como um par [...] Juras e beijos e abraço, regaço escondido pra noite durar. No teu sorriso, cabelo comprido, um adorno com a flor no lugar. Contorço no colchão, confronto a solidão e volto a dormir [...]” (Mula Manca)