sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Ai de mim!







        Tomado pela raiva rasguei tuas fotos, mas de nada adiantou: não consegui tirar o amor por você do meu coração. Amor não se rasga com as mãos, bem disse Edmilson Ferreira. Dito e feito.

        Uma enchente de lágrimas inundou meu bairro, não tenho mais o olhar enxuto como outrora e por azar ou incompetência as lágrimas não diminuem o sofrer. Meus amigos estão tristes como quem se vê diante de um final infeliz. Retorno à uma repetida frase: todo fim infeliz não deixa de ser um sinal de incompetência.

         Inúmeras vezes o silêncio tem sido testemunha dos meus sofreres. A orquestra das tristes manhãs é formada por lamentos e reclamações de uma infindável ressaca. Tenho bebido os mares.
     
          Pra te lembrar, ouço a tristonha “ai de mim” – Wando. Ai de mim!

         Citação: “Nossa história começou com palavras de amor, promessas de paixão”.

       Escrevo poemas e contos, a fim de livrar-me desta saudade crônica. É inútil! Tenho esquecido meus amigos, minhas ilusões, a chave de casa, joguei fora o livro que comecei a escrever, desmatei a árvore que plantei e imagino que não tenho sido um bom filho. Não esqueço você.

       Se hoje fosse ano passado, seria um dia feliz. Seria o dia do passeio madrugada a dentro, o dia de uma longa caminhada pra majorar os minutos juntos. Se hoje fosse semestre passado seria uma noite feliz. Mas nada disso é possível. Vez ou outra sorrio a contragosto.

       Traído pela memória, esqueci o número do seu telefone. Eu poderia ligar. Ouvir sua voz tornaria a vida mais suportável. O momento infeliz machuca e me enfraquece. Ando a esmo pela casa, apego-me à uma garrafa de cerveja e olho as fotos que rasguei. Tento juntar os pedaços, tudo muito espalhado, jogado pela sala. É inútil.

       Eu poderia correr até você, mas não vejo qualquer luz no fim do túnel, falta coragem. Seu afeto espancaria a tristeza que toma conta de mim. Seu perfume ainda está em uma blusa que você esqueceu aqui. Restam-me o sofrer e pedaços de fotografias.

       Que noite agonizante! Que noite ruim pra estar só!

       P.S.: “Ai de mim! Te dei meu céu, pra que partir?” (Wando)