domingo, 28 de outubro de 2012

Ensaio sobre um melancólico





Existe uma infinidade de coisas presas na garganta, um sem-número de perdões esboçados e palavras jamais ditas. Existe uma vida de amores sabotados, esquecidos e tristonhos. Melancolia quase sem fim a tomar conta. Existe um enorme desejo de mudança, tudo muito urgente.
Existe o hábito de pegar o bonde andando, de fazer o amor perder a condução e as condições. O triste hábito de carregar o mundo nas costas virou coisa natural, daí vem o apego aos problemas allheios e o esquecimento de suas soluções.
Existe sempre o medo de um envolvimento. De não em não o amor enche o saco. De perdão em perdão alguém tem que pagar o pato. O medo de se entregar sempre aparece quando se apega à mania de olhar pra trás, mania de viver de passado. Um passado triste e uma abominável melancolia. Sua vida parece uma ambientação de Noites Brancas.
O relógio marca três da madrugada, os amantes estão cansados e a insônia o domina. As olheiras são marcas das madrugadas, das noites inteiras passadas em claro e dos fins de semana passados em casa.
Traz consigo algumas interrogações e poucas respostas. Por que tanta preocupação se é tão grande a sua juventude, afinal é uma pessoa que começa a viver? Quase não se interessa em buscar as respostas para tantas perguntas. Fala-se em quase pra não pra não parecer radical demais.
Cita Belchior quando não sabe o que dizer, acredita que seu coração é fraco, mas custa acreditar que não é tão bom carregar o fardo de ser apegado demais aos problemas alheios. Se ressente de não ser um egoísta.
Citação: “Vida, pisa devagar. Meu coração, cuidado!, é frágil – Belchior.
Sua fé – que outrora era extremamente funcional e importante – tornou-se decorativa apenas. Sente medos. Aliás, parece ter criado uma afeição ao medo e passou a tratá-lo como um grande amigo. Talvez o único grande amigo.
Sonha um dia aprender como se diz eu te amo e se autodeclara um romântico teórico. Ama a saudade, mas não sabe degustá-la, não sabe tirar algum proveito dela e se perde em lembranças tristes.
Apesar dos pesares, em raros momentos de esperança, tem sonhos e pretensões de realizá-los e talvez algum dia se mostre corajoso a ponto de buscar o que quer. Talvez algum dia beba os mares, aprenda a dizer te amo e procure alguém pra lhe fazer bem por tempo indeterminado.
Espera que não desista ainda jovem do amor e que não pegue mais o bonde andando, mas enquanto esse dia não chega, vai ensaiando um sorriso pra menina que ele viu passar na esquina e que tem pernas bonitas. Algum dia – torcem os amigos e até os inimigos – deixará de ser um tanto malcuidado.
Mas ao passo que espera tudo isso de si, lembra que a fé não é mais sua mais forte companheira. E lembra-se que antes, quando estava em desespero, cantava alto em inglẽs, diferente do Belchior, que desesperadamente grita em português. Hoje nem cantarola e nem lembra mais da canção de George Harrison.
Citação: “Seems my love is up!”- George Harrison.
Enfim, um dia a nuvem cinza passará.
P.S.: “All thing must pass. All thing must pass away.” (George Harrison).
P.S.2: Os três primeiros parágrafos foram escritos enquanto assistia “Heleno”, um ótimo filme.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Um dia de domingo




Mais dia menos noite isso iria acontecer. Mais dia menos noite nos encontraríamos e perguntaria o porquê de você terminar assim, de repente. Você sabe tão bem quanto eu da minha mania de achar que a minha vida é uma sucessão de acasos felizes. Nos encontramos hoje por acaso, mas confesso, não sei se esse é um acaso feliz. Minha vida tem sido de melancolia e essa conversa pode ir para o mesmo caminho.
Não sei até que ponto esse reencontro e essa conversa podem ficar melancólicos. Discutir uma relação que já não existe mais parece coisa de louco pra quem tem juízo. Esqueci de perguntar como vai você. Mas nem precisa responder, aparentemente está bem e vai dizer que está, mas eu sei que não. As aparências enganam.
Mas sei que você não andou por aí a se desgrenhar e chorar lágrimas de pedra. Também não fiz muito esforço pra transformar meu bairro em um lugar submerso por minhas lágrimas. Conto nos dedos as vezes em que chorei. Eu não tinha muito porque chorar, eu queria mesmo era entender o porquê de tudo terminar tão de repente. A princípio a sensação era a de que meu coração ficou parado naquela praça onde terminamos tudo. Ou quase tudo.
Por uns dias acordei depois do meio dia com terríveis ressacas. No espelho, um rosto mais velho. Uns dez anos ou mais como canta não lembro quem. Quando cê me deixou assim, de repente, fiquei em frangalhos, as esperanças estavam dilaceradas. Tem uma metáfora bacana pra isso, é “a esperança era um sorvete em pleno sol”. Tava mais ou menos assim. Hoje mellhorei.
Aquele adeus não valeu, foi sem explicação convincente. Não se desama de um dia pro outro. Poderia perguntar se estava a mentir o tempo todo sobre amar, mas não farei isso. Não seria covarde a ponto de duvidar do teu amor por mim. Doeu que tenhamos saído assim sem nem mesmo nos despedir. Nenhum último beijo. Depois de tantas felicidades, travessuras, tantas juras, saíamos sem um até breve. Apenas um “te cuida!”.
Depois de uns porres eu me cuidei. Eu ficava um porre e começava a reclamar de tudo. Reclamava da vida, da cerveja, da relatividade, do CD do Chico Buarque, da carta aberta da Dilma criticando FHC, da impossibilidade de voltarmos à monarquia pelo simples fato de Luiz Inacio estar com o rei na bariga. Eu queria voltar no tempo e tentar ser feliz, mas depois eu me cuidei. Ainda rola uma melancolia, alguma saudade, mas são coisas que um dia acabarão.
Dia desses disseram que parecíamos um desses casais de música do Chico Buarque, mas acho que não. Estamos mais pra personagem de Woody Allen, naquele filme que cê gosta. Anne Hall, né?
Acho que tenho conversado muito pra um encontro casual. É chegada a hora de ir embora e nem perguntei o porquê de tudo ou quase tudo ter terminado.
Enfim, o importante é saber que você está bem. Pelo menos aparenta estar bem. E quanto a mim, preciso ir embora, boa sorte, até outro dia.
P.S.: “Andando pela calçada torta, a luz do sol é o que me conforta, mas sigo sozinho se tem que ser assim.” (O Quarto Azul)


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Nostalgia




Seguia pelas ruas do bairro cantarolando um rock desses bem românticos. As coisas pareciam fora de lugar e ele não tinha a menor pretensão de ver as bobagens da TV. Talvez um bar, onde pudesse beber os mares.
Por alguns instantes lamentava por se encontrar em tal situação. Alegava estar quieto, calmo em seu lugar, sem pretensões de se apaixonar, até que ela apareceu em sua vida. Em pouco tempo ela se tornou, segundo ele, a coisa mais importante que lhe aconteceu nos útimos meses. Lamentava por não ter consigo aquela que era sua amada.
Dizia estar sem rumo e sem saber como pôr ordem em sua vida. Recorrer aos amigos era uma boa ideia, mas ele conseguiu a façanha de se afastar dos melhores amigos. Até dos piores ele estava distante. Precisava de alguém com quem pudesse reclamar da vida, da cerveja, da gravidade, do mais novo CD do Marcelo Camelo, dos juros, da economia, do PIB da Dilma. Sobre qualquer coisa. Do seu sonho de ir pro Recife, onde pretendia ganhar a vida e ser feliz. Era um cara cheio de pretensões.
Trazia consigo uma certa mágoa por não ter lutado mais. Poderia, acredita, pedir que ela ficasse. Poderia pedir, implorar, berrar, gritar, ajoelhar, qualquer coisa, menos desistir tão fácil. Não se conformava por tê-la deixado ir embora. Ela foi sorrindo, sem abraços, sem beijos de despedidas e sem lamentar. Mas, segundo ele, era um sorriso de quem pedia pra voltar, de quem pedia pra ele não deixá-la ir. Como deixar que um grande amor fosse embora? Como deixá-la ir se a amava? Como sofria seu coração.
Não sabia o que fazer pra esquecê-la, tinha sempre alguém pra falar dela, tinha sempre alguém com alguma característica que lembrava ela. Esquecê-la estava fora de questão. A saudade sempre vem na calada da noite, principalmente em uma caminhada sozinho e sem rumo.
Ele costumava dizer que ela parecia as personagens de um de seus escritores favoritos. Uma dessas garotas PhD em desilusão de entusiasmo e que é cheia de medo de sofrer. Ele deveria prever que mais dia menos noite ela poderia deixá-lo, assim, sem muita explicação, sem oportunidades para segundas chances pelas milésima vez, pois era assim que essas personagens se comportavam. A verdade é que nunca se deu muito bem com essas coisas de amor, entendia pouco e era ausente, embora se julgasse especialista em romantismo teórico. De que vale saber e não colocar em prática?
De passo em passo, chegou em um barzinho. Pediu pro carinha da música ao vivo cantar “Todo o sentimento”, do Chico Buarque, e pôs-se a segurar o choro no instante em que ele cantou. O mundo seria melhor se houvesse um jeito de refazer o tempo e fazer renascer o um sentimento que se desfez.
P.S.: “Os dias lembram alguém que nunca sai da mente.” (Jay Vaquer).

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Noites sem fim






Eu hoje fiz um texto meio assim sei lá com pitadas de romantismos e achismos cheios de convicções.

E eu acho que estamos fazendo tudo errado e que você gosta muito de mim. E acho que também gosto muito de você, por isso vivemos por aí, por ali e por acolá nos perdendo quando encontramos alguém pras nossas vidas.

Nessa avenida estamos sambando errado. Nessa multidão estamos caminhando errado e pegando o bonde andando. Eu acho que já estamos pra lá da fase do entusiasmo, mas ainda não aproveitamos as chances e não nos demos conta de que mais tarde pode ser tarde.

Isso de achar que estamos perdendo chances me deixa cabisbaixo, com a cabeça pelas tabelas e cheio de aflições. E eu acho que essa gente absurdamente amarga vive a nos atrapalhar. E acho que estamos ficando amargos e nos atrapalhando. Sabe, nossas vidas andam meio vazias – sem essa de meio cheia – e já estou cheio de tantos desencontros e incompetência para aproveitar oportunidades.

Eu acho que hoje deveríamos nos perder até amanhã, esquecer essas pessoas tolas que se fingem de boas e esquecer essas pessoas más que não escondem querer nosso mal.

Eu acho que hoje deveríamos esquecer o amanhã e pensar no agora. Você deveria dizer sim pros meus achismos cheios de convicções. Eu acho que devemos nos perder até amanhã cedo. E logo, antes que seja tarde.

Eu acho que você deveria deixar de ser assim tão fria e aproveitar esse calor pra fugirmos pra um lago onde podemos fazer travessuras sem que nos preocupemos com o amanhã e com o inverno. Depois, eu acho que deveríamos seguir os conselhos da sua prima Vera e fugirmos e não voltarmos antes da primavera. E ela acredita que devemos fugir porque não existe amar sozinho.

Você precisa dizer sim pros meus achismos cheios de convicções. Vamos fugir hoje e voltar amanhã. Ou depois. Diz sim. Só vence na vida quem diz sim.

Aqueles que nos apoiam sabem que deveríamos aproveitar essa noite antes que seja tarde. Aqueles que nos apóiam alertam que despertar é bom e que deveríamos aproveitar a distração de todos e dos tolos para fugirmos daqui.

E eu acho que por todas de uma vez devemos juntar nossos sonhos e mundos fantásticos e vivermos o hoje como se o amanhã fosse hoje. E o depois fosse hoje. E o depois de depois também e assim será até que tenhamos conosco o pra sempre.

E eu tenho certeza que você acha todos os meus achismos verdadeiras convicções. E acho que você quer seguir comigo catando as poesias que porventura eu deixar cair. Segurando minha mão que teimará em ficar em meu bolso ou dentro do teu vestido.

E acho que você quer seguir comigo e citar poesias da Rosseane por achá-las apropriadas pra nós dois.

P.s.: “[...] Fique a toda hora
não me importa a tua hora
já que tens tudo de mim,
perto ou longe, sempre ou demais,
tenhas-me aqui, em luz ou escuridão
quero as noites sem fim [...]”
(Rosseane Ribeiro)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Longe aqui!





Sento pra te ligar. Peço uma cajuína e torresmo. Estranho que vendam torresmo em um bar do Palmeiras, algo meio canibal, sei lá. Enfim, falar contigo me deixa em paz. Queria estar contigo, mas não posso agora. Você não atende.

Quase ninguém no bar, o que é bom. Estou em busca de paz, ando com a cabeça pelas tabelas. Mais um telefonema e você não atende. Palmeiras acaba de sofrer um gol. Não entendo porque mantém esse goleiro no time titular. Jurei por Deus, de pés juntos, que não reclamaria mais desse goleiro. Vou cumprir a promessa. Eu acho.

Às vezes lamento a solidão de quem não tem um grande amor. Lamento também minha situação, que também é sua, eu acho. Estamos distantes. Justo agora que mudei tanto, justo agora que meu mundo já não era mais essa coisa feia, triste e comovente como a defesa do Palmeiras quando formada por Deola no gol, Maurício Ramos e Leandro Amaro na zaga e Márcio Araújo no meio. Mais um telefonema e nada. Deve estar dormindo. Queria ouvir tua voz.

Palmeiras acaba de fazer um gol, comemorei discretamente. Talvez comemorasse eufórico se conseguisse falar contigo. “Alôôôôôô, ô me atenda pelo telefone!”.

Desculpas, eu me exaltei.

Estou aqui há mais ou menos uma hora, ligo, você não atende. Gol do Palmeiras. Golaço, aliás. Gol do Luan e passe do Denoni. Acho que ele vai ser o novo Pirlo.

Enfim, ligando pra dizer que estou com saudades, que preciso ouvir tua voz. Pô, sem você, eu tropeço. Sem você eu fico triste. Mais triste do que todos os palmeirenses naquele ano de 2009, quando perdemos um título ganho.

Palmeiras domina o jogo. Mais uma chamada não atendida. Não domino meu nervosismo com o jogo e nem com o fato de você não atender. Deve estar dormindo mesmo. Uma menina na mesa ao lado, alheia ao jogo e ao namorado, que grita feito um louco, começou a cantarolar “bem devagar”, do Gilberto Gil. Acho que é dele. Por um instante me distraí do jogo, dediquei atenção à menina. A música é linda. Se você atendesse ao telefone, diria que “sem correr, bem devagar, a felicidade voltou pra mim, sem perceber, sem suspeitar, o meu coração deixou você surgir”, mas você não atende.

Palmeiras marcou o terceiro e não comemorei e começo achar estranho e melancólico te mandar esse SMS enquanto palmeiristas se abraçam e comemoram eufóricos e eu espero o outro telefone tocar, na esperança de que você retorne a ligação.

A cajuína esquentou, o torresmo esfriou, o jogo acabou e o Palmeiras venceu mais uma, apesar do Deola. E eu te amo a perder de vista.

P.S.: “E como o despertar depois de um sonho mau, eu vi o amor sorrindo em seu olhar. Chegou sem correr, bem devagar.” (Gilberto Gil).

terça-feira, 10 de julho de 2012

Gente, o Palmeiras! (Palmeiras, eu te amo, porra! III)






Gente, o Palmeiras!

Já é terça, quarta é logo ali, a ansiedade toma conta, a tensão toma a atenção. A memória vai se refrescando com alguns momentos importantes de alegrias e tristezas e esperanças. Momentos de calmaria, tensão, medo e esperança. Muita esperança de ver o Palmeiras mais uma vez imponente. Lutando como nunca no gramado, honrando a torcida, a sua história e os jogadores que vestiram sua camisa e fazem parte da sua história.

O momento é de ansiedade. Mas é muito mais de esperança. Os palmeiristas estamos a cada minuto mais certos de que viveremos um grande momento, certos de que uma glória grandiosa nos espera quarta feira.

O momento é incrivelmente eufórico. De esperanças. Sim, a repetição da palavra esperança é proposital. Os palmeiristas estamos esperançosos. Há tempos esperamos por esse momento, há anos sem título nacional, e isso é triste. Muito triste. Quarta feira tudo isso pode mudar. Poderemos conquistar um título nacional, a importante Copa do Brasil. A concretização da conquista dará ao Palmeiras a marca de melhor campanha da história da Copa.

Amanhã há de ser outro dia. De lágrimas de alegria como as do primeiro jogo contra o Grêmio, as do segundo jogo contra o Grêmio. De alegria como as do jogo da semana passada, quando vencemos por dois a zero e ficamos uma mão na taça. Sem as lágrimas de tristeza do jogo contra o Grêmio, pelo Brasileirão, em 2009, o ano que não acabou. Ainda não acabou, pois semana passada nós comemoramos um feliz natal e quarta feira, havemos de comemorar um próspero ano novo e finalmente sairemos desse ano tristemente inesquecível. Ah, Como ficarei insuportável de feliz em caso de título.

Sim, os verbos na primeira pessoa do plural também são propositais. Sabem Deus e os palmeiristas o quanto esperamos por esse momento. Sabem Deus e os palmeiristas o quanto lutamos por esse time, o quanto sofremos, sabem quanta energia positiva temos mandado.

Quarta feira vai ser lindo ver o Felipe Scolari comemorar mais um título pelo nosso alviverde imponente. Vai ser uma coisa beleza. Vai ser uma lindeza ver a torcida palmeirista comemorar mais um título ou, no caso dos mais novos, vê-los comemorar o primeiro título da vida de palmeirense deles.

Quarta feira é logo ali. Seremos felizes, eu sei. Teremos uma glória grandiosa, eu sei. Os palmeiristas sabemos. Mostraremos que, de fato, somos campeões. Será linda a festa.

Quarta feira é logo ali, será dia de Palmeiristas insuportáveis de felizes, dia de um grão de loucura (não confundir grão com grau!), enfim, viveremos dias de alegrias a perder de vista, dias de palmeirense mais feliz do que todas as crianças ricas do planeta.

Aqui é Palmeiras, baralho! Palmeiras, eu te amo, porra!

P.S.: "Defesa que ninguém passa,
linha atacante de raça,
torcida que canta e vibra."
(Hino do Palmeiras)

sábado, 7 de julho de 2012

O Chato





- Está tudo bem, cara?

- Sim, está. Por quê?

- Cê está bebendo sozinho nesse bar. Cê está bebendo Glacial e colocando a mesma música do Eric Clapton há mais ou menos 40 minutos e isso me faz pensar que você não está bem.

- Está tudo bem. Pode deixar.

- Está mesmo? Olha você está com um olhar de quem chorou muito. Mais do que todos os botafoguenses depois daquela final do estadual de 2009 e olha que faltou pouco pro Rio de Janeiro virar uma cidade submersa.

- Mas eu já disse que está tudo bem. Pode deixar.

- Sei não. Essa cara de solidão e desolação faz pensar o contrário. Acho que você não está bem, mas fala que está pra te deixarem em paz. Parece coisa de quem usa a modéstia. Não sei se você sabe, mas esse lance de modéstia é uma mentira, quando uma pessoa vem com modéstia eu já percebo que ela tá querendo um afago. Parece estar implorando pelo elogio que não tem coragem de fazer a si mesmo. Você me dá essa impressão.

- Impressão de quê? Eu só quero beber minha cerveja e ouvir a porcaria dessa música um milhão de vezes. O que você tem contra essa música? Eu gosto dela e quero ouvi-la. E o que é que modéstia tem a ver com isso?

- Mas cê parece triste, é sério. Conheço tristeza de longe, cara. Olha aí, a música vai tocar de novo. Cara, quanto cê gastou nesse jukebox colocando essa música? Tá rico, né moleque? O começo dessa música é engraçado. Mas diz aí tua namorada te deixou foi? Fugiu com outro? Nesse tempo de festa junina as mulheres são danadas pra fugirem com o cara que grita a quadrilha, digo isso porque a Joana – lembra-se dela? – me trocou por um cara que tava gritando quadrilha no bairro.

- Lembro não, mas talvez ela tenha tido algum bom motivo pra te deixar. Ou algum bom motivo pra ficar com outro cara, o que é mais provável. Deve ter se entusiasmado com ele. Sei lá. Essas acontecem, cara. Ah, e minha namorada não me deixou não. Eu nem tenho.

- Sei não! Aí tem coisa. O que te aflige?

- Nesse momento, você e essas perguntas e insinuações bestas, me deixa em paz, mermão. Ah, eu lembro sim quem era Joana e ela disse que ia terminar contigo porque tu és chato pra caramba.

- Precisava falar assim não. Tava aqui de boa, tentando ajudar.

- Desculpa, me exaltei. Mas cê me tirou do sério, cê pode voltar pra sua mesa, por favor?

- Tudo bem, eu volto. Pode ficar aí de boa. Ah! E, por todas de uma vez, quem é Alberta?

- Sei lá. Pergunta pro Eric Clapton, a música é dele.

P.S.: “Sai pra lá, se manca, vê se me esquece, não aguento mais, já tô com stress.” (Só Pra Contrariar).

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Tamo na finaaaaaaaaaaaal. (Palmeiras, eu te amo, porra!)





Quem é Palmeirista sabe a emoção de voltar à uma final importante depois de tanto tempo. Tinha que ser com o Felipão. Tinha que ser com ele. Tinha que ser com gol do Valdivia. Tinha que ser. Tamo na finaaaaaaaaaaaaaaallll! Emoção à flor da pele. No bar do Palmeiras, era a toda altura.

Dane-se diretoria de merda, dane-se bando de filho da puta que queima o Palmeiras, danem-se aqueles que não sabem porra nenhuma de palmeiras e subestimam o próprio time. Não ganhamos nada ainda, faltam dois jogos. Difíceis jogos, mas por esses dias eu vou viver palmeiras como nos tempos de antigamente, com a inocência dos tempos de antigamente, aquela de quando não sabia porra nenhuma de política interna do clube. Aquele torcer bonito e inocente que hoje me levou a cumprimentar e abraçar o cara em quem passei um tempão pensando em dar uma surra porque ele ficava de onda comigo. Dane-se qualquer rivalidade besta por causa de ex-namorada. É tudo Palmeiras, é tudo emoção. E sim, eu tô chorando muito, chorando copiosamente.

Sabe, sempre pensei essa vaga à final como uma coisa muito bacana, como uma coisa beleza. A todo instante pensava em dividir isso com uma das pessoas mais importantes que eu conheci nesses últimos meses. A princípio tinha receio em ligar, ela poderia estar dormindo, mas deixei pra lá, eu estava feliz demais pra não ligar pra Luciana, eu tava feliz demais pra não dizer "estamos na final!". Ela corintiana chata e doente.

Sabem Deus e meus amigos o esforço que fazia pra segurar o telefone enquanto minhas mãos tremiam. Sabem Deus e meus amigos o quanto segurei pra não chorar no bar do Palmeiras, preferi guardar isso pra quando chegasse à minha casa, embora as lágrimas já ameaçassem desde o final do primeiro tempo, quando o nariz congestionou. Isso acontece quando choro ou seguro o choro. Segurei o choro. Depois minha voz ameaçava sumir. Eu tava feliz demais. Eu tô feliz demais. Eu já estou chorando “convulsivamente”.

Sabe Deus e, talvez, meus amigos o quanto me segurei pra não chorar ao ver Valdivia abraçar Felipão na hora do gol. Aquilo foi lindo. Emocionante. Eu tô chorando. Aqui é Palmeiras, porra!

Eu amo o Palmeiras. Eu amo ser palmeirense. Eu amo o Felipão. Eu amo Luciana e sua paciência em me ouvir, embora eu não estivesse falando coisa com coisa. Embora ela estivesse cansada, mas eu não conseguiria dormir sem ouvir sua voz cansada. E sou grato, muito grato à Sabrina, grande amiga, que me pedia paciência e pra eu não ter um piripaque.

Eu amo o Palmeiras, eu tô feliz demais. Eu tô chorando de felicidade. Estamos na final, porra. Na final. Aqui é Palmeiras, caralho.

Se na semana passada foi felicidade de abraçar meio mundo de Palmeirista desconhecido e a garçonete que apareceu em minha frente, hoje foi felicidade ainda maior.

Influenciei meu sobrinho de 19 anos a ser palmeirista ainda em 1999, quando ele era molecote, hoje fiquei feliz por vê-lo comemorar classificação do Palmeiras.

Eu tô feliz. Eu tô feliz. O alviverde é imponente e vou parar de escrever. De chorar, não sei.

Palmeiras, eu te amo, porra!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Sem flores






Sobras de amor e atenção. Sombras de dúvidas e falta de entusiasmo. Já não parecia prudente ter alguém ao seu lado, parecia coisa de quem tem necessidade de dizer que tem alguém, de quem tem necessidade de dizer que vive um romance.

Ela não sabe dizer o que aconteceu, o que levou ao fim do entusiasmo que fazia levar o romance. Passou a andar triste. Solidão a dois é um perigo. As flores eram sempre bonitas e ela gostava de recebê-las. Os cartões eram sempre bem escritos, os versos sempre românticos, mas isso já não lhe era suficiente. Faltava algo e não era ele quem lhe daria esse algo.

Poderia viver sem as flores e os cartões bem escritos. Seria melhor estar só do que acompanhada por alguém ausente e que acreditava compensar ausências com presentes e mimos e telefonemas de madrugada. Romantismo não supre ausência. Não tem conto ou poesia que dê sobrevida a um romance que vive de ausências e chegadas fora de hora.

Enquanto espera a hora de encontrar o namorado, pensa em um jeito de dizer que acha melhor viver sem ele. Pensa em um jeito de dizer que o romance deles chegou a um nível em que os choros são em vão. Era um romance que não iria leva-los a lugar algum além de noites de travessuras e ela queria algo mais sério, queria algo que a completasse e não era ele esse complemento.

Os amigos apostavam e erguiam brindes ao casal quando chegavam ao bar, alguns apenas fingiam não perceber que tudo daria em nada. As amigas mais próximas até aconselhavam que ela o deixasse. Outras pessoas pediam paciência e diziam que um dia ela poderia viver pra morrer de amores por ele. Diziam que o amor não tem pressa e que mais dia menos noite ela se encontraria perdidamente apaixonada por ele. Mas não era isso o que ela queria. Esperou muito e não aconteceu o que disseram. E foi até melhor assim, certamente seria a única pessoa a amar nesse romance. Entusiasmo estava de bom tamanho.

Tinha alguém pra quem ligar, mas era alguém que não ligava muito para o que os dois poderiam ser. E já não importava mais.

Chorava o que poderia ser o último choro por esse romance e cuidaria de aprender novos caminhos e novas fugas de tristezas abissais. Sem flores e cartões. Até acha engraçado que tenha apostado tanto por tanto tempo. Agora acha melhor seguir seu caminho, sozinha. Ou bem acompanhada com a solidão e uns vinhos que vieram nas cestas de café da manhã que ele lhe mandou.

Colocaria, talvez, um DVD do Leoni e cantaria “canção da despedida” a toda altura. Não teria o menor pudor em dizer que estava “de volta à vida, aos amigos e aos sorrisos”. Talvez tenha passado algum tempo andando no escuro e nem tenha percebido.

P.S.: “Mas ante só que repartir as contas desse amor. Quem deu mais, quem mais perdeu já nem importa mais.” (Daniel Lopes e Leoni).

terça-feira, 5 de junho de 2012

Certezas






Era um domingo de futebol às 18h15min. Era o horário em que meu time jogaria. Cláudio, amigo dos tempos de antigamente e que também torcia pelo mesmo time que eu e que sempre assistia o jogo comigo e outros amigos na minha casa, ligou-me perguntando se poderia chegar mais cedo, antes do jogo. Disse que sim. Quase sempre digo sim.

Falou-me sobre estar com a cabeça pelas tabelas, sobre ter passado o dia embaixo de uma árvore. Sobre a árvore disse que é bom fazer isso quando se sente que a vida está arruinando. Essas coisas que envolvem tristezas, dramas, desilusões de entusiasmo etc.

Ficava a se perguntar pra onde foram todas as certezas de ontem. Eu não sabia o que dizer. Quase ninguém sabe ou diz. Pude perceber o quanto se fica aflito quando não se sabe o que fazer. Segundo ele, as certezas de ontem faziam acreditar que a felicidade seria eterna, que as escolhas eram todas certas e as melhores. Era o que todos diziam. “E agora, cadê?”, perguntava.

“Cara, a certeza de agora é a de que não se pode mover o mundo. A certeza de agora fala que é preciso ter cuidados pra não se perder em vaidades e que é preciso se encontrar em perdões. Mas as certezas de ontem diziam que não havia necessidade de perdões, pois não havia erros. E agora? Somos tão pequenos!”, dizia Cláudio entre gestos e goles de cerveja.

“Ah, se pudesse voltar no tempo”, disse. A repetição da palavra certeza em toda a conversa pareceu-me tão intencional quanto um “erro” da arbitragem a favor do Corinthians. Tenho certeza disso. “Mas ainda não é possível voltar no tempo!” – exclamou. “Isso é uma exclamação mesmo, pois é de ficar surpreso que não se possa fazer viagem no tempo com tanta tecnologia como nos dias de hoje. É preciso voltar no tempo.” Falava um confuso Cláudio.

Cláudio pôs-se a falar sobre saudades. Ele tinha a certeza de que as saudades faladas eram de verdade. Todas de verdade. Nesse instante falou-me que a razão para tudo era a indiferença de sua namorada. Tentei convencê-lo que por trás do que há de frágil nessas certezas de hoje existe uma força incrível. Uma força de verdade e boa.

E entre um gole e outro dizia-lhe que de certo mesmo só existe a idéia de que aos trancos e barrancos é possível ir levando sem que o seu mundo caia, sem que as ilusões fiquem perdidas e que é preciso carregar bem as ilusões e com todas as forças.

Às vezes – quando se perde as certezas – é até melhor ficar um tempo só até entender um pouco o enigma das dúvidas. Ficar sozinho pra saber se isso é bom, se aquilo deve ser deixado pra trás, se aquele sonho vale a pena ser realizado. Ficar sozinho, embaixo de uma árvore, talvez seja uma boa idéia. Tomar cerveja, conversar e assistir futebol também.

Em determinadas situações, não ouvir o acústico de Eric Clapton também é uma boa. “Tears in Heaven” é de causar depressão no carinha da música “Lígia”, do Tom Jobim e Chico Buarque.

P.S.: “E a gente é tão pequeno e acha que move o mundo.” (Leoni).

terça-feira, 29 de maio de 2012

Contramão





Ouvia os risos que vinham de longe. Antes disso, um silêncio de fazer ouvir suas lágrimas caírem no chão. Os dias eram ruins e de tristezas abissais. Aquele dia era ainda pior. Seu olhar de quem chorou denunciava mais uma vez o fim de seu romance.  Costumava dizer que o romance era dele, pois sua impressão egoísta é que ele era a única pessoa a amar naquela história toda.

Talvez seu modo de amar fosse mais intenso. De fato, era mais intenso. Chegou a se queixar com os amigos dele e dela. Chegou a se queixar com ela que o chamou de egoísta, antes de dizer que ele estava deixando de ser um cara extremante maduro e equilibrado. Por se considerar maduro e muito equilibrado, não disse nada, deixou passar, quis evitar uma discussão séria e desnecessária.

A discussão foi apenas adiada. Brigaram feio, trocaram acusações infantis, ela disse que o amor dele era pouco e se acabou, ele disse que o amor que ela sentia murchou antes das flores que ele deu. Chegaram ao fundo do poço quando ele disse que poderia ser feliz sozinho, que seria melhor do que estar mal acompanhado, todas as palavras duras que se diz em momentos de tensão ou de desequilíbrio e infantilidade.

Essa briga é que o levou a sair de casa e ir para um bar perto de um dos shoppings, onde ele poderia tomar uma cerveja, acompanhar a melancolia do anoitecer, as pessoas fazendo caminhada, os casais que passavam ali perto. Os casais faziam com que ele se lembrasse de seu namoro. Faziam lembrar o quanto foi imaturo e imbecil ao gritar daquele jeito.

Ainda cedo, quando o movimento era pouco e o silêncio reinava, podia ouvir o balanço das águas do rio, temia que suas lágrimas fossem suficientes pra formarem um rio. Depois aumentou movimento, veio barulho dos carros, das risadas de um grupo de adolescentes que estavam do outro lado da avenida.

Entre uma cerveja e outra, a sensação de que nunca esteve tão indefinido. O medo de cair em prantos a qualquer momento tomava conta dele. A vontade de procurá-la, pedir perdão, dizer que não foi por mal, que não aconteceria mais, pensou dizer tanta coisa seguida de um pedido de segunda chance, pela milésima vez. Um pouco de álcool e presença de amigos poderiam acomodar sua solidão. Mas os amigos demoravam chegar. Eram dois de sua extrema confiança.

Lembrou-se que há alguns dias chegou a falar em casamento. Ela ponderou, disse não estar preparada e mais uma vez ele saiu pra se queixar com amigos de sua confiança e dizer que ela não o amava muito e que ele parecia amar sozinho. Muito cheio de egoísmo, sempre. Aos amigos de sua desconfiança não dizia nada de mais, conversava amenidades e cotidianos.

A todo instante pensava no acontecido. E entre um gole e outro, percebia cada vez mais o quanto estava indefinido, inconstante e pensou também que era hora de parar de beber e pensou nos longos meses em que esteve com sua ex, depois sentiu raiva por tudo o que planejaram e não cumpriram, lembrou-se das flores, dos livros, dos telefonemas de madrugada pra dar boa noite e lembrou tanta coisa, do sorriso dissimulado, da gargalhada linda, lembrou-se de tudo e percebeu que vivia demais pra ela, que ligava demais pra ela e pensou que ele era o único a amar em toda aquela história.

Do outro lado do rio, em um barzinho, ela estava com umas amigas, chorando e lembrando-se das vezes em que acordava desesperada pra lhe devolver o ar enquanto ele era dominado por uma asma. Lembrou-se de quando saiu de um cursinho no fim de semana por causa dos ciúmes, de quando ele deixava de sair com ela pra ver futebol ou jogar com os amigos. De como ela aceitava tudo isso sem reclamar.

Percebeu, então, que vivia demais pra ele, que fazia muito por ele, que também o amava demais e se dedicava demais, percebeu que ele não valorizava tanto amor e dedicação, que ele a trocava pelos amigos pra se queixar que ela não queria saber deles dois. Trêmula, levantou a voz pra dizer algumas coisas e foi embora deixando as amigas sozinhas.

P.S.: Todo fim infeliz não deixa de ser um sinal de incompetência.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

A vida tem dessas coisas





Nós não tínhamos um conceito sobre nós, tínhamos uns nós que nos prendiam. Você partia e isso me partia o coração e quando menos esperava você chegava, sem avisar. Ao te ver de volta não sabia se comemorava ou lastimava. Nunca foi fácil a tentativa de esquecer você e sempre que estava prestes a lembrar-me um pouco menos você aparecia.

Toda vez que buscava uma saída eu entrava pelo cano. Não era fácil me convencer de que você não era mais a pessoa certa. Há de perdoar, mas tentava acreditar que você era um túnel ainda no começo da luz. Você me atrapalhava, mas eu não ligava, sempre fui atrapalhado. Você me bagunçava, mas era minha melhor bagunça. Você ia embora e eu ficava ansioso pela volta. Virou lugar-comum acreditar que embora fosse por todos os lugares, você sempre voltaria pra mim.

Os nós que nos mantinham unidos foram desatando aos poucos. Os “adeuses” pareciam pra valer, as voltas ficaram mais demoradas, as reconciliações menos românticas, até que você me apareceu com a idéia de que deveríamos terminar pra valer, aproveitar o bom momento. Segundo você, as paixões ou grandes amores quando começam a se desgastar devem terminar. De preferência no auge.

Pensei que aquela era apenas mais uma das suas idas com voltas. Não foi fácil cair na real e perceber que você aprendeu a dizer adeus. Quando caí na real, percebi que não sabia ouvir adeus e eu pensava que não iria me acostumar nunca. Pensava que seria mesmo eterno, mas sem essa de “enquanto dure”, tinha que ser o eterno tipo “pra sempre”, mas sempre não é todo dia, como canta Oswaldo Montenegro.

Sentia sua falta. Era uma ausência que chegava a atormentar, incomodar. Faltava você pra mergulhar no sofá da sala enquanto assistíamos filme. Faltava você reclamando da falta de cuidado com meus livros e DVD’s. Faltava você ligando pra falar do medo da chuva e da falta de luz. Sentia falta de sair na chuva e ir pra tua casa te fazer companhia.

Dos nós que nos prendiam quase nenhum restou. Digo quase pra não parecer radical demais. Ficou aquele CD do Leoni e todo dia eu ouvia “50 receitas”. Ficou um livro do Paulo Francis, “Filhas do segundo sexo”, uma sandália e uma roupa que você vestia quando acordava e ia pra sua casa. Por alguns dias ficou ainda a expectativa de que você voltaria a qualquer momento. Foi antes de descobrir que você aprendeu mesmo a dizer adeus.

Levei tempo pra perceber que não éramos mais o casal atrapalhado mais bonito e promissor do mundo e que nos tornamos apenas um casal atrapalhado. Então vivia de rever filmes tristes, chegava a chorar vendo beijo de novela – tão à flor da pele quanto Zeca Baleiro. Os sábados eram melancólicos. Foi assim por muito tempo. Deixei de sair com os amigos, preferia ficar em casa.

Tentei um novo relacionamento, mas não me dei bem. Era uma relação estranha. Éramos dois feridos. Ela estava tão mal quanto eu. Tinha acabado de sair de um relacionamento ruim. Estava precisando de amor, mas não tinha amor pra dar. Ambos estávamos assim. Desistimos.

Com o passar do tempo eu passei a pensar mais em mim e saí em busca de coisas que me fizessem bem. Esperar-te era inútil. Comecei a me dar conta que não tínhamos motivos pra recomeçar. Saudade e solidão não são os sentimentos necessários para que se possa viver um romance. Sentia mais saudade e solidão do que amor.

Parei de criar fantasias, minhas expectativas hoje são mais contidas e tenho quebrado menos a cara, tenho assistido menos filmes tristes e me apaixonei outra vez. Estou bem.

E você? Como você está? Só eu falei esse tempo todo em que estamos presos nesse elevador.

P.s.: “A vida tem dessas coisas, olha só nós dois aqui presos num elevador nessa noite sem dormir”. (Ritchie)

sábado, 28 de abril de 2012

Sobre Efrém Ribeiro e agressão ao jornalista e a estupidez





Não sei o que me espanta mais, se a agressão relatada pelo jornalista Efrém Ribeiro, que resultou na perda de dois dos seus dentes, ou o modo como algumas reagem ao saber de tamanha covardia contra o jornalista, quando comentam que “foi bem feito” “ele merece” “quem procura acha” e “blá, blá, blá, blá”. Gente estúpida essa que cultua a violência contra um jornalista.

Gente estúpida essa que cultua a moralidade baixa. A violência contra um jornalista ou qualquer outro profissional é um crime, não pode ser cultuado. Em tempos de violência fatais contra jornalistas, em tempo de desrespeitos à liberdade de imprensa, em tempos de Brasil ocupando a 11ª posição em crimes contra jornalistas é um total absurdo que se cultue violência.

Gente estúpida que não tem o menor pudor em apontar os erros gramaticais do Efrém Ribeiro, mas parece não perceber o quanto erram quando dizem que o jornalista mereceu apanhar.

Quem é que gosta de apanhar? Efrém, aliás, sofreu uma das agressões mais marcantes dos tempos de crime organizado no Piauí. Suas denúncias, através da imprensa, ajudaram bastante para que se desse um “basta” na organização criminosa que dominava o estado. Apesar das ameaças e agressão, Efrém não sucumbiu, manteve-se corajoso e fez várias denúncias contra o chefe do crime organizado, que está preso e, dentre os crimes que está pagando, responde por ter mandado dar uma "surra" no Efrém. Acredita-se que a ordem era ir além, mas a multidão que se formou durante a agressão fez com que o agressor fosse embora.

Deve-se respeitar o Efrém ou qualquer outro jornalista. Ele é um repórter, é curioso, tem mesmo que ir atrás das notícias, saber dos fatos, pois quer fazer reportagens mais aprofundadas, quer ser um jornalista diferenciado, tem ousadia. Efrém e todos os outros jornalistas merecem respeito. E os incomodados com suas matérias que processem o jornalista. Existem meios legais, não se pode aderir ao uso da violência.

P.s.: Desculpas, eu me exaltei! (Tá aqui a matéria. Ali não, aqui!)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dois dias'





Para ler ao som de “Eu preciso é de você” – Marcio Greyck.

O jardineiro daqui de casa quis saber por que você não aparece há dois dias. Meu chefe mandou e-mail, quer saber por que não apareço há dois dias na empresa. Disse que ligou, veio até em casa e nada de falar comigo. Deixou dois recados. Exagerado, diz ter feito sinal de fumaça.

Faz dois dias que você não aparece. Há dois dias cê disse que não apareceria mais, jurou não querer me ver. Faz duas doses que eu tomo uísque sem gelo. Faz duas horas que cheguei a minha minibiblioteca e não paro de me lembrar de você. Nesse momento percebo que li uma frase de um livro do Ricardo Kelmer umas duas mil vezes e ainda não entendi nada.

Eu já ouvi 200 receitas pra te esquecer, mas nenhuma deu certo. Talvez não devesse falar dessa saudade e angústia que tomam conta de mim, mas não consigo fazer outra coisa. Talvez eu dê uma volta ao mundo. Talvez eu te procure em busca de respostas mais convincentes pra essa sua idéia de se afastar, se mandar. Eu sei que tenho uma cara culpada como canta Paul Young.

Faz duas horas que ouço “Sem você II”, do Chico Buarque. “Sem você é o fim do show”. E sem mim? Quem vai te ajudar? Quem vai regar teu jardim? Pra quem você vai correr?

Uísque sem gelo lembra você. Lembra o dia em que nos conhecemos. “Uísque sem gelo, por favor. Caubói, querido!”, foi exatamente assim que você se dirigiu ao garçom, imitando a voz da Meg Stock naquela música com o Jay Vaquer. Não resisti e disse o quanto é irritante isso de ser chamado de “querido”, soa falso. Cê disse que eu não tinha nada a ver com o jeito que cê falava com o garçom e saiu dizendo alguns desaforos.

Faz dois dias que a diarista daqui de casa falou que independente do que acontecer, eu devo encarar o amanhã como um dia normal, pensar em um amanhã melhor. Eu juro que tentei pensar assim, mas sem você não dá. Ainda não dá. Pediu pra eu conversar com ela e disse que falar sobre os problemas ajuda a superá-los. Disse também pra eu vencer os obstáculos e aprender a dançar o baião.

As tuas coisas ainda estão comigo. Teu livro do Kernard sobre o Torquato está aberto na página de “Zabelê”. “Toda meia noite eu sonho com você”. E tua camisa do Vasco. E também aquele filme do Almodóvar, que eu te dei e que você assistia pra ver o Caetano cantar e pra ver a toureira ser atingida por um touro. Cê dizia “bem feito, nunca mais maltratará um animal!”. Coitada da personagem.

Sabe, sem você eu fico duas vezes mais triste que a mais triste das músicas do Ray LaMontagne. Minhas preocupações por você e pelos seus atos me silenciam. Não saber muito o porquê de não querer saber de mim é como estar com os dois braços amarrados em um trilho enquanto o trem está passando e não saber como sair. Não ter como sair. Essa idéia parece absurdo, eu sei.

Faz dois minutos que eu tento entender o porquê dessa última metáfora e só chego à conclusão de que estou em frangalhos e que é melhor parar.

P.s.: “Porque todo mundo precisa de alguém e eu preciso é de você, pra comigo andar e para me entender”. (Marcio Greyck).