por
alguns dias os dias eram cinzentos. tristes. não digo que chorei
lágrimas de esguicho, nem lágrimas de fazer transbordar, de inundar
bairros, mas andei um tanto perdido, sem saber sobre rumos. os
caminhos eram escuros.
os
dias pareciam hostis e eu me sentia amargurado. a desmesura de paixão
começava dar lugar à uma desmesura de tristeza e amargura. eram os
dias ruins. em dias assim a solidão adere a características ainda
mais cruéis e implacáveis.
trancado
no quarto, vez ou outra incomodado pelo som abafado dos carros que
rompiam o silêncio, eu tentava entender onde e como as coisas
desaconteceram. olhava no espelho e não me reconhecia, o que via era
uma imagem arrasadora e a barba começava a crescer em proporções
mulçumanas. desolador.
era,
sobretudo, visível o declinio da minha concentração. os amigos
sequer podiam me olhar com uma ternura piedosa, pois eu me prendi em
casa e fiquei praticamente vazio de relações pessoais. quando me
deparava com alguém esboçava sorrisos, mas o olhar geralmente
denunciava a tristeza. o abatimento era visível.
com
o passar dos dias comecei a cobrar de mim uma postura de respeitar,
cuidar mais de mim, pensar mais em mim. ora! a vida, que traz dores,
não se furta em nos dar as curas. cabe a nós entender qual a melhor
saída pra uma vida mais amena e não se internar na solidão.
conversas
e reencontros com alguns amigos tornaram os dias menos cruéis, menos
chatos e aos poucos fui me deparando com emoções novas. e foi
quando comecei a entender a idéia de que algo ou alguém pode sim
ser uma razão pra uma felicidade, mas não condição necessária,
sob pena de depois vivermos em cruel tristeza. foram dias ruins, mas
hoje os vejo, também, como grandiosos. aprendi bastante. aprendi um
tanto de serenidade com esses dias ruins e prenhes de tristezas.
essas
sensações ruins ainda podem ser sentidas, mas em bem menos
freqüência. não adiro à euforia de dizer que esqueci, pois se
sabe que a memória da gente é um tanto sem rumo e geralmente nos
leva alguns lugares sem que queiramos. pode vez ou outra acontecer
assim. acontecerá, sim, eu suponho. mas eu devo estar ao menos
melhor preparado, seguro de que não haverão de se repetir as
tristezas trazidas pela saudade como antes.
quanto
a você, espero que esteja bem.
p.s.:
“você pediu e eu já vou daqui, nem espero pra dizer adeus (…) e
deixo todo o meu amor aqui e jamais eu direi que me arrependi pelo
amor que eu deixar.” (antonio marcos)