Adriano sabe que o que existe entre ele e Helena não é uma amizade
que se mantém com um “nos veremos amanhã pela manhã”
desmarcado em cima da hora pra “um dia desses, qualquer dia, no fim
de semana, talvez! Vamos torcer para que dê certo”. Namoro, rolo,
seja lá o que eles têm não é algo assim superficial e que pode
ser deixado pra depois. Qualquer depois!
De repente, não muito de repente, as coisas começaram a desandar,
faltava um tempo aqui, sobrava uma obrigação ali e quase tudo
começou a desandar. Uma crise, outra e outra e cada vez mais
distanciamento. Já nem parecia mais um casal.
Erro: Parecia sim, mas mais para as outras pessoas. É que em muitos
casos as aparências enganam. Como enganam! De um jeito que no começo
enganavam a eles mesmos quando achavam que dariam um jeito, que
teriam um tempo aqui, outro acolá, mas sempre faltava esse tempo.
Pior, muito pior: se acostumaram com a falta de tempo.
O hábito de desmarcar coisas em cima da hora por cansaço ou falta
de tempo virou coisa natural, os telefonemas ficaram raros, havia até
mesmo demora entre um “alô!” e qualquer outra palavra, as vozes
eram cansadas – alternavam esse cansaço vocal, diga-se – até
Adriano se dar conta do medo de não saber lidar com todas essas
coisas.
Mais um encontro desmarcado, mais um teatro sem eles na platéia,
mais um cinema sem eles no escurinho, mais uma falta de tempo, mais
uma falta de grana, mais um pacote de camisinhas – lacrado! –
jogado no criado-mudo, mais um dia sem travessuras, mais um excesso
de coisas por fazer, mais um livro por ler, um dicionário pra
decorar, mais umas contas pra pagar, mais uns planejamentos por
fazer, umas fórmulas pra aprender. Outra vez falta de tempo. Adriano
teme que não resistam ao tempo. À falta de tempo. No outro lado da
cidade Helena dorme. Está muito cansada.
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