Um
vento tímido balança a árvore vizinha, e ele, ainda mais tímido,
controla-se para não balançar as pernas, enquanto se olham e riem.
Pensa nas palavras, ensaia mentalmente, ela ri como se sabendo o que
pretendia dizer. Ele trava o que pretendia dizer. Começa. Recomeça.
Tre-recomeça. Ela ri. Ele poderia pedir mais água, um abraço,
poderia elogiar o vestido florado, o sorriso, falar que ela está
mais bonita, mais madura, apontar para a gatinha deitada na rua,
ganhar tempo, mas nesse caso ganhar tempo seria perder e já perdeu
tanto.
Ela
ri. A ele faltam as palavras que lhe sobram quando escreve. Um
estalo. Recomeça. Fala sobre aflições, medo de merecer, esquina do
coração. Tropeça nas palavras, mas segue, fala, declara. Saiu um
caminhão dos ombros. Faz-se alívio, coragem, coração por inteiro.
Seguiu-se
a conversa. Se possível fosse quereria ver o próprio olhar, mas
outro meio que não fosse espelho. Seria estranho olhar-se no espelho
enquanto falava. Mas julgava que em seu olhar havia algo parecido com
um brilho eterno de uma felicidade porvir. O vento mantinha-se
tímido, ele nem tanto, mas ansioso. Timidez passou a ser coisa dela.
Conversas, risos, mãos dadas.
O
horário já não é mais cedo. Um até breve. Mais à vontade, a
vontade é de não mais sair desse abraço, de não mais parar de
sorrir o riso bobo, porque já faz alguns dias que onde havia pranto
passou a existir sorriso. E onde havia a impregnação de personagens
tristes e ambientação de “why does It always rain on me” passou
a existir felicidade e bom pressentimento e um repeat de “amei te
ver”, que Tiago Iorc fez pra eles.
Volta
pra casa ouvindo e cantarolando Sweet Surrender (Bread) e aguarda
ansioso pelo próximo passo desse novo caminho.
O
amor sempre espera pelos abraços atrasados. Pensou. Não lembra onde
ouviu ou leu, mas concorda plenamente.
P.S.:
“O coração dispara, tropeça, quase para, me encaixo no teu
cheiro e ali me deixo inteiro, eu amei te ver” (Tiago Iorc).
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