quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Bonita V – Tão bem





I
Antes dela chegar havia um punhado de tristeza e uma vontade imensurável de se internar na solidão. 

Antes dela chegar ele era um especialista em romantismo teórico. Um aprendiz que não sabia bem o que era prática e que fazia confusão com os sentimentos.

Antes dela chegar ele pensava em maneiras de se manter inerte em algum canto da casa, fechar-se em um mundinho onde amigos e uma nova paixão inexistiriam por muito tempo.

Antes dela chegar ele andava pela casa, desesperadamente cantava “num labirinto” e jurava que se algum dia se entregasse a algum romance deixaria arrumada a mala, pra não ter muito trabalho na hora de se afastar. Agiria como o inquilino-andarilho que não fixa residência, não pinta a parede e que não fixa móveis nas paredes.

Antes dela chegar o que ele sabia sobre o amor estava em algumas crônicas e numa poesia do Gregório de Mattos, que ele aprendeu aos doze anos. Que dizia ser o amor um embaraço de pernas, um reboliço de ancas, um breve tremor de artérias. Coisas assim.

Antes dela chegar às vezes lhe faltava equilíbrio e seguia um caminho de se tornar um malcuidado maldizente do amor.

II
Até que um dia ela chegou e lhe fez sentir novamente sentimentos que se mantinham guardados em seu coração. Ainda dos tempos de imaturidade e medo de merecer. Já viu esse filme.

III
Quando ela chegou ele estava indeciso quanto aos rumos que deveria dar à sua vida porque estava 'num estado emocional tão ruim'.

Quando ela chegou ele pôs-se a sorrir porque ela sorria um riso bonito e estava de braços abertos. Sua risada mais parecia um som de júbilo.

Quando ela chegou lhe fez algumas exigências que lhe eram novidades e então ele se debruçou sobre o que sabia a respeito do amor. Acatou.

Quando ela chegou foi logo dominando – novamente – seu coração e ele buscou entender o que era aquilo que sentia. Então pensou nas juras de manter pés no chão. Descumpriu.

IV
Depois que ela chegou ele notou que a vida ficou mais suave e então começou a repensar o que sabia sobre o amor. Gregório de Mattos então lhe pareceu grosseria diante do que sente.

Depois que ela chegou ele foi se dando conta de que o amor é um tanto diferente do que havia aprendido. O amor não é finalmente embaraço de pernas, reboliço de ancas, tremor de artérias. Não.

Depois que ela chegou ele compreendeu que o que melhor se pode dizer sobre é “o amor é paciente”. Paciência no amar é essencial para aqueles que querem ir além em um romance. O amor espera abraços atrasados, bem disse Gabito Nunes.

Depois que ela chegou ele passou a lidar com atenção, apoio, reencontrou equilíbrio e não pensava mais em internar-se na solidão.

Depois que ela chegou ele entendeu que a paciência do amar faz compreender que a vida não é apenas saber lidar com abraços, carinhos, beijos, mãos dadas, risos, risos. Não. Mas vez ou outra um pouco de chatice, cara amarrada, stress e demora nas respostas. Prudência no ânimo.

Depois que ela chegou ele esqueceu os porquês e se entregou ao sentir e viver. Então ousa dizer que atingiu um patamar em que finalmente passou a amar na prática.

P.S.: “Te encontrar num dia azul, pegar na tua mão. Bom te ver e enxergar uma nova direção”. (Volver)

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