sábado, 15 de outubro de 2011

Um papo breve





Tínhamos tudo pra sermos felizes, mas perdemos esse tudo. Por medo, certamente. Fomos muito crianças acreditando que seria pra sempre e que teríamos todo o tempo do mundo.

Não aproveitamos quase nada. Perdemo-nos em coisas insignificantes. "O que vão pensar? O que vai ser de nós?" Tudo isso era tão insignificante, mas mesmo assim nos deixamos abalar. Perdemo-nos. Fomos medrosos.

Desamor é imperdoável. Não nos corrigimos enquanto era tempo. Não nos emendamos. Perdemos todo amor que sentíamos porque tivemos medo. Veja bem, morena: agora que tudo é sem tempo e sem conserto e que os erros nos ensinam, é que descobrimos a verdade.

Nossas verdades: O medo. A vontade de desistir.

Quando tivermos oitenta anos, ainda teremos algum tipo de resignação. Ainda teremos conosco o "e se". “E se tivéssemos tentado? E se tivéssemos ido adiante?” Tudo isso e muito mais.

Talvez não seja motivo de arrependimento, pois sei que até lá estaremos bem. Vivendo bem a vida, mas haverá sempre esse questionamento. Mas perguntaremos: "E se tivéssemos tentado?".

Além do medo, a mentira. Mentíamos pra nós mesmos acreditando que isso ajudava a tornar a verdade mais verossímil, mais acreditável.

Perdemo-nos. No meio do caminho vieram as perdas. De amor, de carinho, de saudade quando distantes e da verdade. Perdemos até a gentileza e a sinceridade. Você era gentil e sincera feito Gal Costa cantando ‘Nenhuma dor’.

A vida tem dessas coisas, veja só nós dois aqui num banco da av. Frei Serafim, conversando essas coisas depois de um encontro casual enquanto o ônibus não vem e tendo a conversa que não tivemos em um ano juntos. Conversando essas coisas de alguns anos atrás.

Depois de tudo, o que importa mesmo é que tenhamos gosto por viver. Os caminhos são longos e cheios de perdas. E pedras. E somos quase sempre tolos e inseguros.  O que importa é que não haja mais medo. E que reconheçamos o que foi deixado pra trás.

O desamor é imperdoável e você sempre soube disso. Aprendi depois, tarde e com os erros. Talvez o que tenho comigo é um certo remorso. Não é amor, eu sei. Deve ser mesmo remorso. E a antecipação das perguntas que serão feitas quando tivermos 80 anos.

Lá vem o ônibus, não perca a condução. E leve esse livro com você. Tem coisas que só o Erasmo de Rotterdam explica.

PS: “Um papo breve e tão sutil, depois de tudo, me confundiu. Eu tô de novo na chuva, você em terra firme, sempre certa do que dizer, pois só você manda em você.” (Vitor Ramil).

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