segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

espera




frei serafim. teresina. 18 horas. sentado num banquinho, elvis presley  no ouvido, arnaldo antunes nas mãos. abre a página branca contra fraquezas travestidas de virtudes. à vista, uma estranha árvore de natal e a estátua de wall ferraz. "ídolo", segundo ele. já tomou umas e outras, encostado na estátua.

agora está quieto. os carros passam, o trânsito está uma loucura e foi tomado por uns imbecis. de repente, fica impaciente. está à espera de alguém. ela não chega. ele odeia esperar. sms enviado. é o terceiro dia seguido que ele espera e ela não aparece. nada, nenhum sinal nos outros dois e por enquanto, terceiro dia, nenhum sinal.

a espera parece inútil e decepcionante como esperar chuva no sertão. a sorte é que ele é um cara paciente. e esforçado. parece disposto a esperar. tem um olhar amargurado, mas não foi sempre assim não. já foi um grande farrista. um boêmio. talvez essas duas coisas que ele era estejam ligadas à tristezas e arrependimentos. e amarguras.

a garota por quem espera segundo dizem, traz consigo experiência de sobra com essas coisas de amar. parece ter medo de se apaixonar e tem sempre um pé atrás, teme que possam fazê-la sofrer a qualquer momento. mas pelo que se sabe ele não é desse tipo. ele não causará sofrimentos.

ele também já sofreu bastante, mas isso não o fez desistir do amor. pelo contrário, fez acreditar cada vez mais, fez aprender que mais dia menos noite encontraria alguém que o merecesse, alguém em quem pudesse confiar. a vida parece ter lhe dado mais uma chance, mas acontece que parece que a garota por quem espera não aparecerá mais uma vez. parece não acreditar mais no amor.

quando ela não apareceu no primeiro dia, pensou que houve algum imprevisto. algo que a impediu até mesmo de ligar ou atender ao telefone. no segundo dia, chegou a pensar em imprevisto, mas também pensou que poderia ser um fora mesmo. que ela não queria conversa com ele.

então prometeu não esperar mais, não ligar, não se preocupar. prometeu até mesmo não amar. prometeu tudo bonitinho, mas não cumpriu nada. na teoria ficou tudo bem, mas na prática nada funcionou. ligou algumas vezes e foi procurá-la e esperá-la mais uma vez. a espera segue inútil e decepcionante.

talvez comece a desacreditar no amor. mais dia menos noite pode aparecer uma descrença nessa coisa meio louca que é esse tal do amor. um pouco de álcool e solidão poderiam fazer bem.

segundo chico buarque, o amor não tem pressa e pode esperar. mas é preciso entender que quem ama tem pressa e não tem todo o tempo do mundo pra esperar. talvez aquele rapaz espere por mais uns três dias ou um mês, mas um dia ele cansará dessa espera. desistirá. até que um dia possa encontrar um amor tranqüilo, desses que não exijam tanta demonstração dos sentimentos para se sentir seguro. o amor pode esperar, mas aqueles que amam não esperarão pra sempre.

certamente ele continuará por mais alguns minutos a esperá-la. só por hoje ele irá esperar. pode ser que só por hoje ele ligue, mande mensagens, recados, vibrações positivas e flores. e amanhã, quando desistir, pode ser que ela sinta falta de tanta demonstração de carinho, amor e afeto. e pode ser que apareça ao encontro marcado. e pode ser que ela tenha que esperar de forma inútil e decepcionante como esperar chuva no sertão. a vida tem dessas coisas.

ps: "‘we can't go on together with suspicious minds. and we can't build our dreams on suspicious mind.” (elvis presley).

Nenhum comentário: