terça-feira, 5 de junho de 2012

Certezas






Era um domingo de futebol às 18h15min. Era o horário em que meu time jogaria. Cláudio, amigo dos tempos de antigamente e que também torcia pelo mesmo time que eu e que sempre assistia o jogo comigo e outros amigos na minha casa, ligou-me perguntando se poderia chegar mais cedo, antes do jogo. Disse que sim. Quase sempre digo sim.

Falou-me sobre estar com a cabeça pelas tabelas, sobre ter passado o dia embaixo de uma árvore. Sobre a árvore disse que é bom fazer isso quando se sente que a vida está arruinando. Essas coisas que envolvem tristezas, dramas, desilusões de entusiasmo etc.

Ficava a se perguntar pra onde foram todas as certezas de ontem. Eu não sabia o que dizer. Quase ninguém sabe ou diz. Pude perceber o quanto se fica aflito quando não se sabe o que fazer. Segundo ele, as certezas de ontem faziam acreditar que a felicidade seria eterna, que as escolhas eram todas certas e as melhores. Era o que todos diziam. “E agora, cadê?”, perguntava.

“Cara, a certeza de agora é a de que não se pode mover o mundo. A certeza de agora fala que é preciso ter cuidados pra não se perder em vaidades e que é preciso se encontrar em perdões. Mas as certezas de ontem diziam que não havia necessidade de perdões, pois não havia erros. E agora? Somos tão pequenos!”, dizia Cláudio entre gestos e goles de cerveja.

“Ah, se pudesse voltar no tempo”, disse. A repetição da palavra certeza em toda a conversa pareceu-me tão intencional quanto um “erro” da arbitragem a favor do Corinthians. Tenho certeza disso. “Mas ainda não é possível voltar no tempo!” – exclamou. “Isso é uma exclamação mesmo, pois é de ficar surpreso que não se possa fazer viagem no tempo com tanta tecnologia como nos dias de hoje. É preciso voltar no tempo.” Falava um confuso Cláudio.

Cláudio pôs-se a falar sobre saudades. Ele tinha a certeza de que as saudades faladas eram de verdade. Todas de verdade. Nesse instante falou-me que a razão para tudo era a indiferença de sua namorada. Tentei convencê-lo que por trás do que há de frágil nessas certezas de hoje existe uma força incrível. Uma força de verdade e boa.

E entre um gole e outro dizia-lhe que de certo mesmo só existe a idéia de que aos trancos e barrancos é possível ir levando sem que o seu mundo caia, sem que as ilusões fiquem perdidas e que é preciso carregar bem as ilusões e com todas as forças.

Às vezes – quando se perde as certezas – é até melhor ficar um tempo só até entender um pouco o enigma das dúvidas. Ficar sozinho pra saber se isso é bom, se aquilo deve ser deixado pra trás, se aquele sonho vale a pena ser realizado. Ficar sozinho, embaixo de uma árvore, talvez seja uma boa idéia. Tomar cerveja, conversar e assistir futebol também.

Em determinadas situações, não ouvir o acústico de Eric Clapton também é uma boa. “Tears in Heaven” é de causar depressão no carinha da música “Lígia”, do Tom Jobim e Chico Buarque.

P.S.: “E a gente é tão pequeno e acha que move o mundo.” (Leoni).

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