quarta-feira, 13 de junho de 2012

Sem flores






Sobras de amor e atenção. Sombras de dúvidas e falta de entusiasmo. Já não parecia prudente ter alguém ao seu lado, parecia coisa de quem tem necessidade de dizer que tem alguém, de quem tem necessidade de dizer que vive um romance.

Ela não sabe dizer o que aconteceu, o que levou ao fim do entusiasmo que fazia levar o romance. Passou a andar triste. Solidão a dois é um perigo. As flores eram sempre bonitas e ela gostava de recebê-las. Os cartões eram sempre bem escritos, os versos sempre românticos, mas isso já não lhe era suficiente. Faltava algo e não era ele quem lhe daria esse algo.

Poderia viver sem as flores e os cartões bem escritos. Seria melhor estar só do que acompanhada por alguém ausente e que acreditava compensar ausências com presentes e mimos e telefonemas de madrugada. Romantismo não supre ausência. Não tem conto ou poesia que dê sobrevida a um romance que vive de ausências e chegadas fora de hora.

Enquanto espera a hora de encontrar o namorado, pensa em um jeito de dizer que acha melhor viver sem ele. Pensa em um jeito de dizer que o romance deles chegou a um nível em que os choros são em vão. Era um romance que não iria leva-los a lugar algum além de noites de travessuras e ela queria algo mais sério, queria algo que a completasse e não era ele esse complemento.

Os amigos apostavam e erguiam brindes ao casal quando chegavam ao bar, alguns apenas fingiam não perceber que tudo daria em nada. As amigas mais próximas até aconselhavam que ela o deixasse. Outras pessoas pediam paciência e diziam que um dia ela poderia viver pra morrer de amores por ele. Diziam que o amor não tem pressa e que mais dia menos noite ela se encontraria perdidamente apaixonada por ele. Mas não era isso o que ela queria. Esperou muito e não aconteceu o que disseram. E foi até melhor assim, certamente seria a única pessoa a amar nesse romance. Entusiasmo estava de bom tamanho.

Tinha alguém pra quem ligar, mas era alguém que não ligava muito para o que os dois poderiam ser. E já não importava mais.

Chorava o que poderia ser o último choro por esse romance e cuidaria de aprender novos caminhos e novas fugas de tristezas abissais. Sem flores e cartões. Até acha engraçado que tenha apostado tanto por tanto tempo. Agora acha melhor seguir seu caminho, sozinha. Ou bem acompanhada com a solidão e uns vinhos que vieram nas cestas de café da manhã que ele lhe mandou.

Colocaria, talvez, um DVD do Leoni e cantaria “canção da despedida” a toda altura. Não teria o menor pudor em dizer que estava “de volta à vida, aos amigos e aos sorrisos”. Talvez tenha passado algum tempo andando no escuro e nem tenha percebido.

P.S.: “Mas ante só que repartir as contas desse amor. Quem deu mais, quem mais perdeu já nem importa mais.” (Daniel Lopes e Leoni).

Nenhum comentário: