- Está tudo bem, cara?
- Sim, está. Por quê?
- Cê está bebendo sozinho nesse bar. Cê está bebendo Glacial e colocando a mesma música do Eric Clapton há mais ou menos 40 minutos e isso me faz pensar que você não está bem.
- Está tudo bem. Pode deixar.
- Está mesmo? Olha você está com um olhar de quem chorou muito. Mais do que todos os botafoguenses depois daquela final do estadual de 2009 e olha que faltou pouco pro Rio de Janeiro virar uma cidade submersa.
- Mas eu já disse que está tudo bem. Pode deixar.
- Sei não. Essa cara de solidão e desolação faz pensar o contrário. Acho que você não está bem, mas fala que está pra te deixarem em paz. Parece coisa de quem usa a modéstia. Não sei se você sabe, mas esse lance de modéstia é uma mentira, quando uma pessoa vem com modéstia eu já percebo que ela tá querendo um afago. Parece estar implorando pelo elogio que não tem coragem de fazer a si mesmo. Você me dá essa impressão.
- Impressão de quê? Eu só quero beber minha cerveja e ouvir a porcaria dessa música um milhão de vezes. O que você tem contra essa música? Eu gosto dela e quero ouvi-la. E o que é que modéstia tem a ver com isso?
- Mas cê parece triste, é sério. Conheço tristeza de longe, cara. Olha aí, a música vai tocar de novo. Cara, quanto cê gastou nesse jukebox colocando essa música? Tá rico, né moleque? O começo dessa música é engraçado. Mas diz aí tua namorada te deixou foi? Fugiu com outro? Nesse tempo de festa junina as mulheres são danadas pra fugirem com o cara que grita a quadrilha, digo isso porque a Joana – lembra-se dela? – me trocou por um cara que tava gritando quadrilha no bairro.
- Lembro não, mas talvez ela tenha tido algum bom motivo pra te deixar. Ou algum bom motivo pra ficar com outro cara, o que é mais provável. Deve ter se entusiasmado com ele. Sei lá. Essas acontecem, cara. Ah, e minha namorada não me deixou não. Eu nem tenho.
- Sei não! Aí tem coisa. O que te aflige?
- Nesse momento, você e essas perguntas e insinuações bestas, me deixa em paz, mermão. Ah, eu lembro sim quem era Joana e ela disse que ia terminar contigo porque tu és chato pra caramba.
- Precisava falar assim não. Tava aqui de boa, tentando ajudar.
- Desculpa, me exaltei. Mas cê me tirou do sério, cê pode voltar pra sua mesa, por favor?
- Tudo bem, eu volto. Pode ficar aí de boa. Ah! E, por todas de uma vez, quem é Alberta?
- Sei lá. Pergunta pro Eric Clapton, a música é dele.
P.S.: “Sai pra lá, se manca, vê se me esquece, não aguento mais, já tô com stress.” (Só Pra Contrariar).
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