Nosso
amor era um salto
No
escuro.
Sem
muitas expectativas
Falta
d’água em enduro.
Um
salto no fundo do poço,
Um
amor sem esforço,
Sem
rimas.
Desculpas
pela paz que eu lhe roubei
Desce
do salto.
Desce
do trono, rainha.
Cuidado
com o salto alto
Cuidado
com o salto no fundo do poço.
Desculpas
pela paz que lhe roubei.
Não
foi por mal.
Amor
é um precipício.
Precipitamos-nos.
Desculpas
pelos exageros,
Não
foi por mal.
Desculpas
pelas horas perdidas,
Creio
que foi por bem.
Desculpas
pelas mentiras,
Foi
por mal.
Digo,
foi mal.
Nosso
amor foi dúvida,
Estamos
em dívidas.
Desculpas
pelos ciúmes,
Foi
por bem.
O
futuro é incerto.
O
coração é um deserto.
“Meu
pobre coração não vale nada, anda perdido”
Como
bem disse Torquato Neto.
O
futuro é um inseto doido,
Batendo
cabeça contra a parede.
Desculpas
pelas metáforas
E
pela falta de palavras e de jeito.
Não
foi por mal.
Desculpas
pelas overdoses de tropicalismo,
Não
odeie Torquato,
E
o Caetano é sim um chato,
Mas
é um gênio.
Nosso
amor foi salto.
Salto
no escuro
E
queda no fundo do poço.
Desculpas
pela paz que lhe roubei,
Foi mal.
Desculpas
pelas brigas,
Pelas
piadas fora de hora.
Desculpas
pelos clichês,
Não
foi por mal.
Leia
Torquato.
Leia
um romance.
Não
chore.
Não
foi por mal.
Fui
teu bem.
Fui
teu mal.
Fui,
meu bem.
PS:
Ao som de ‘Habeas Corpus’, do Maurício Baia.
Um comentário:
Essas rimas perfeitas foram lidas com agonia. Fiquei com calafrios só de imaginar que alguém pudesse ouvir isso. As palavras torneiam uma sensibilidade trazida da gênese da simplicidade, do sentimento de inofensibilidade. Talvez isso tenha uma das tuas escritas que mais me tocou. Essa pretensão de escrever sobre a afabilidade do cotidiano, de como certas reações são capazes de criar em nós sentimentos diversos, que às vezes são capazes de nos fazer redimir ou assumir uma postura mais dura. Creio que falar de amor é fácil, simples, aconchegante. Mas o contrário já dá um desconcerto, uma fome de terminar logo e livrar-se daquilo. Parabéns, mesmo!
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