quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dois dias'





Para ler ao som de “Eu preciso é de você” – Marcio Greyck.

O jardineiro daqui de casa quis saber por que você não aparece há dois dias. Meu chefe mandou e-mail, quer saber por que não apareço há dois dias na empresa. Disse que ligou, veio até em casa e nada de falar comigo. Deixou dois recados. Exagerado, diz ter feito sinal de fumaça.

Faz dois dias que você não aparece. Há dois dias cê disse que não apareceria mais, jurou não querer me ver. Faz duas doses que eu tomo uísque sem gelo. Faz duas horas que cheguei a minha minibiblioteca e não paro de me lembrar de você. Nesse momento percebo que li uma frase de um livro do Ricardo Kelmer umas duas mil vezes e ainda não entendi nada.

Eu já ouvi 200 receitas pra te esquecer, mas nenhuma deu certo. Talvez não devesse falar dessa saudade e angústia que tomam conta de mim, mas não consigo fazer outra coisa. Talvez eu dê uma volta ao mundo. Talvez eu te procure em busca de respostas mais convincentes pra essa sua idéia de se afastar, se mandar. Eu sei que tenho uma cara culpada como canta Paul Young.

Faz duas horas que ouço “Sem você II”, do Chico Buarque. “Sem você é o fim do show”. E sem mim? Quem vai te ajudar? Quem vai regar teu jardim? Pra quem você vai correr?

Uísque sem gelo lembra você. Lembra o dia em que nos conhecemos. “Uísque sem gelo, por favor. Caubói, querido!”, foi exatamente assim que você se dirigiu ao garçom, imitando a voz da Meg Stock naquela música com o Jay Vaquer. Não resisti e disse o quanto é irritante isso de ser chamado de “querido”, soa falso. Cê disse que eu não tinha nada a ver com o jeito que cê falava com o garçom e saiu dizendo alguns desaforos.

Faz dois dias que a diarista daqui de casa falou que independente do que acontecer, eu devo encarar o amanhã como um dia normal, pensar em um amanhã melhor. Eu juro que tentei pensar assim, mas sem você não dá. Ainda não dá. Pediu pra eu conversar com ela e disse que falar sobre os problemas ajuda a superá-los. Disse também pra eu vencer os obstáculos e aprender a dançar o baião.

As tuas coisas ainda estão comigo. Teu livro do Kernard sobre o Torquato está aberto na página de “Zabelê”. “Toda meia noite eu sonho com você”. E tua camisa do Vasco. E também aquele filme do Almodóvar, que eu te dei e que você assistia pra ver o Caetano cantar e pra ver a toureira ser atingida por um touro. Cê dizia “bem feito, nunca mais maltratará um animal!”. Coitada da personagem.

Sabe, sem você eu fico duas vezes mais triste que a mais triste das músicas do Ray LaMontagne. Minhas preocupações por você e pelos seus atos me silenciam. Não saber muito o porquê de não querer saber de mim é como estar com os dois braços amarrados em um trilho enquanto o trem está passando e não saber como sair. Não ter como sair. Essa idéia parece absurdo, eu sei.

Faz dois minutos que eu tento entender o porquê dessa última metáfora e só chego à conclusão de que estou em frangalhos e que é melhor parar.

P.s.: “Porque todo mundo precisa de alguém e eu preciso é de você, pra comigo andar e para me entender”. (Marcio Greyck).

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