quarta-feira, 18 de abril de 2012

Ele e ela II





Ela vestia um vestido azul e cantarolava uma música estranha. Ele usava cavanhaque e tentava saber que música era aquela que ela cantava. Era setembro. Em novembro ele descobriu que ela cantava a música de uma banda chamada “Caramelos de Cianuro”. A música era meio deprê e um rock venezuelano.

Ela é meio ligada nessa coisa de literatura estrangeira e lê livros do Caio F. Abreu. Ele se contenta com Lima Barreto e Dostoievski, mas já havia arriscado um livro do Caio. Pequenas Epifanias. O título chamou sua atenção. Ele lê o blog de um cara chamado João Baldi Junior. Ela suspira lendo Gabito Nunes.

Ela é linda e inteligente e faz o melhor bolo de chocolate do mundo e sonha ir pra New York. Ele fanático por futebol, é gente fina e não tem muitas habilidades especiais, mas sabe preparar um bom café. Sonha ir pro Recife, ganhar a vida e ser feliz. Igual o carinha da música da Parafusa.

Ele a viu pela primeira vez em um aniversário. Ela o viu pela primeira vez em um barzinho no centro da cidade. Eles se conheceram em uma locadora. Ele pegou o filme “Rebelde sem causa” e sugeriu que ela levasse “Sem reserva”. Ela levou. Ele levou “Eu e as Mulheres”, que ela indicou. E falaram sobre filmes, sobre livros e trocaram telefones. Ele não quis perguntar que música ela estava cantarolando.

Dias depois se encontraram. Em um barzinho no centro da cidade. Eles ficaram pela primeira vez em um banquinho na principal avenida da cidade. Em frente à estátua do ex-prefeito Wall Ferras. Ele não usava cavanhaque. Ela sugeriu que ele tirasse. Ela vestia um longo vestido florado.

Ela chora assistindo “Outono em Nova Iorque”, ele fica com a voz embargada vendo “O amor pode dar certo”. Ela briga por ele não querer ver “Marley e eu” com ela. Ele briga por ela não querer ir ao show de um cover dos Roberto Carlos. Ela diz que ele é um chato. Ele diz que ela é linda. Ele faz quase tudo pra agradar. Ela faz quase para que todos os momentos entre eles sejam agradáveis.

Ele faz poemas, ela prefere músicas. Quando brigam, ela liga às quatro da manhã pra cantar Leoni e dizer “sua ausência me condena à dor da saudade”, ele diz que precisa do sorriso dela pra abraçar o mundo e muito mais. Ele liga às 11h50min da noite pra dizer que o time perdeu e que ele está chorando muito. Ela ri.

Ele não dorme antes das duas da manhã. Ela acorda antes das seis da manhã. Ela é pontual. Ele sempre chega atrasado ao trabalho. Ela é fã do Marcelo Camelo. Ele diz ter medo do Camelo por causa daquela barba e da voz arrastada nos discos solos. Ela diz que Oswaldo Montenegro é de causar depressão em Prozac. Ele se irrita e ouve “Agonia”. Ele é fã de Litle Joe, banda do outro Hermano, aquele que é meio louco.

Quando tá triste, ela chora e lê Caio F. Abreu e ouve Caramelos de Cianuro. Quando tá triste, ele ouve Ivan Lins, seguido de Leoni e Oswaldo Montenegro e escreve poemas, contos, algumas crônicas e recita baixinho, pra ele mesmo, algum poema do Torquato Neto.

Ela pensa em casamento. Ele toma Pepsi cola. Ela fala em lua de mel, ele fala em um mestrado em Recife. Ela rala pra terminar a monografia. Ele assiste “Se beber não case 2” e fica dando pausa no filme pra escrever mais um de seus textos, ri alto e atrapalha a concentração dela.

Ela está se habituando a dormir na casa dele, ele não gosta muito da idéia de acordar antes das seis, mas acha muito bom tomar café da manhã em casa.

P.s.: “O amor não se tem na hora que se quer, ele vem no olhar, sabe ser o melhor na vida e pede bis quando faz alguém feliz.” (Marcelo Camelo).